Sexta Sei: É um avião? Não, é o Siri, o homem pássaro, e seus ninhos maravilhosos

Artista plástico e músico, que já excursionou com Sivuca e Hermeto Pachoal, cria ninhos experimentais que são como pequenas naves a… decolar

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Siri e o “Cocar” feito com teclas de piano

Conheci o músico e artista plástico Siri, 46 anos, na plateia do festival que amamos Multiplicidade, no Rio, na época quando ele estava lançando o disco  “Je ma pele Siri” e apresentando a exposicão “Oroboro”, com instalações sonoras maravilhosas feitas a partir de instrumentos de sopro que perderam a função e que, claro, ele tocava ao vivo. Tudo isso virou pauta pra mim na coluna Transcultura (versão online aqui).

Imagens da série “Oroboro”

Siri é um músico que se moldou artista plástico e entrelaçou estes dois caminhos em sua arte forte e potente. Com cinco CDs autorais, ganhou o Prêmio da Música Brasileira, em 2010, como melhor disco eletrônico, por “Ultrasom”, feito a partir dos exames médicos de sua filha Clara, e tocou com grandes nomes da MPB, como Sivuca, Hermeto Paschoal e Fernanda Abreu. Nas artes plásticas, sua estética reúne elementos que vão do surrealismo ao neoconcretismo e à arte imersiva. Um artífice que une arte e vida.

Pindorama (2020)

 

Depois desse trabalho com elementos constitutivos de sua experiência musical, ele tem ampliado seu repertório a partir da adição de materiais orgânicos e cotidianos, estabelecendo novas conexões entre arte, cultura e natureza, seja na série com favos de abelhas, que ele mesmo cria, ou nos ninhos habitáveis que acolhem a audiência a convidam a uma viagem galáctica, atualizando os pressupostos do movimento neoconcreto de Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Batemos um papo, por e-mail, para falar de dois habitáveis que ele acaba de montar, de forma remota, com a ajuda de assistentes, na Casa Cor, no Rio, e no Farol Santander, em Porto Alegre, pelo Zoom. Falamos também da performance sonora efêmera que faz dentro desses ninhos fantásticos, prontos a decolar.

Moreira – Quando te conheci, em 2015, nas apresentações do Multiplicidade, seu trabalho estava ligado à reconstrução de instrumentos musicais de sopro sem uso, e você ainda gravou um disco tocando estes instrumentos. Você continua fazendo música ou isso ficou de lado com o mergulho nas artes plásticas? Me fala da sua experiência com Sivuca e Hermeto Pascoal, deve ter sido muito foda.

Siri – Em 2015, já estava bem envolvido com as artes plásticas. Meu trabalho como músico estava se tornando cada vez mais experimental e performático. Já não estava cabendo em formatos convencionais como palco, plateia, teatro… Nessa mesma época, fui convidado para fazer uma residência na Cittè des arts, em Paris. Essa experiência muda, definitivamente, minha trajetória. Pela primeira vez, tive tempo de refletir sobre minha carreira e sobre novos projetos de vida. Chegando ao Brasil, faço duas exposições individuais e várias coletivas e finalizo o disco “Je ma pele Siri”, que gravei em Paris e finalizei aqui. Nesse disco, fiz todos os arranjos, composições e gravei todos os instrumentos. Era uma experiência que queria ter há muito tempo. Minha experiência com os mestres Sivuca e Hermeto foram mágicas, momentos que só a música consegue proporcionar. Toquei durante quatro anos com Sivuca, três deles tocando percussão e o último ano como baterista. Foram momentos de puro êxtase. Tive o privilégio de participar da turnê que celebrava o encontro entre Sivuca e Hermeto. Foram vários shows memoráveis. Era um sonho estar no meio desses dois ícones da música brasileira.

Moreira – Como que, deste trabalho tão mecânico, físico, você saltou para estes fabulosos ninhos, orgânicos, perecíveis? É bonito demais, viu…

Siri – Em uma outra residência artística, desta vez em Ilha Bela, me convidaram para fazer uma performance ao ar livre e levar minhas instalações sonoras. Lembro que estava muito cansado da experiência com programações no computador, cabos, microfones, IN , OUTS e toda a tecnologia envolvida. Pensei que como estava indo para uma ilha, levaria somente o necessário. Um  facão. Na época, já estava envolvido no projeto da minha nova exposição no Centro Hélio Oiticica-RJ, chamada “Habitaveis”. Essa exposição falava sobre lugares improváveis de vida. Toda a inspiração veio do quintal de casa. As galinhas, as abelhas, a terra, as plantas, os galhos. Ovos de codorna viraram planetas e os galhos, um Ninho, que virou palco para minhas performances. A partir dessas experiências, esses elementos naturais são incorporados às minhas performances, fotografias, esculturas , instalações e também no som.

Moreira – Como é a experiência do público nestes ninhos? Imagino que altamente interativa.

Siri – É uma experiência bem forte, não só na construção do Ninho, como a performance e a interação com público. Me lembro da primeira performance que fiz dentro do Ninho. Comecei  a tocar e a construir camadas de som sobrepostas umas as outras, gravando tudo ao vivo. Já havia passado 30 minutos e ainda estava tocando um mesmo som. Não sabia qual era a reação do público. Me lembro de olhar para fora do Ninho e ver umas 50 pessoas deitadas em volta do ninho de olho fechado. Percebi que havíamos levantado vôo naquela nave de tronco, galhos e cipós.

Moreira – Opa! Nao sabia que havia uma performance nos ninhos, como é? 

Siri – Após a construção do Ninho, levo alguns instrumentos que remetem à natureza, como sementes, conchas, didjeridoo e alguns tambores. Toco um instrumento e gravo, por meio de um pedal de loop. Isso forma uma base sonora. Daí, vou gravando várias camadas, uma por cima da outra, até formar uma massa sonora. Puro improviso. Isso cria uma música efêmera, que pode ter pouco tempo, como pode levar horas. Um mantra mesmo. Quando finalizo a performance, desligo o pedal. E aquela música é apagada, só registrada na memória das pessoas que presenciaram a performance.

Moreira – Você me disse que montou dois novos ninhos durante a pandemia, na Casa Cor 30 anos, que vai até 25 de abril, e no Farol Santander, em Porto Alegre. Como são esses ninhos, teve alguma reflexão pandêmica? Como está fazer arte no meio desse fim do mundo?

Siri – Fui convidado para montar esses dois ninhos, o nº 8 e o nº 9. As duas montagens foram uma experiência nova. Montei via telefone (zoom) com alguns assistentes que já tinham uma experiência na montagem, mas ficava me coçando, em casa, para colocar galhos e dar forma a instalação. Acredito que, apesar de ser uma pandemia global, cada pessoa está tendo uma experiência individual. Sempre curti ficar em casa no meu ateliê, no jardim, com a família. Mas está sendo muito duro ter grandes inspirações e produzir. Talvez não seja o momento para isso. Tenho lido e estudado muito para me manter sadio e, claro, ficando em casa.

Abaixa que é tiro!??

Resolvi fazer uma festa virtual para a gente se encontrar, mantendo o isolamento social, tudo de acordo com a OMS. Vai ser na próxima sexta, dia 26, às 20h, no Google Meet. Fiquem ligados que a lotação da sala é pros cem primeiros a chegar (já pode confirmar e reservar). O timão tá um absurdo de delícia, com o trio de DJs do coletivo jovem Makoomba (Crraudio, acósmica e ocrioulo) que eu gosto, meus amigos de longa data Pedro Paiva e Tuta, do Vinil é Arte, e o querido Alex Paz, da Feira de Discos. Um encontro de música analógica e digital e também de gerações, tudo junto e misturado, como eu gosto. Cada DJ fará um set de 40 minutos. Só vem! A ideia é ser semente para um festival mesmo, com shows, no futuro. Evento no Facebook aqui.

Um dos eventos mais legais e descolados do Rio está de volta, o Festival Dobradinhas e Outros Tais, que aposta no encontro de jovens artistas em shows únicos, criados exclusivamente para o evento da jornalista, boa-praça, querida e curadora Julianna Sá.  Nesta quarta edição, rebatizada de Festival Dobradinhas +, serão quatro shows exclusivos e inéditos, de trios, com cerca de 40 minutos, de graça, na web, neste sábado, 20, às 15h.

Esta edição traz uma novidade: além da dupla de artistas,  haverá agora um instrumentista convidado para somar na sonoridade (o último nome nas equações a seguir). Os trios estão pra lá de especiais, como se espera das ações da Julianna, com Dora Morelenbaum + Luiza Brina + Aline Gonçalves,  Juliana Linhares + Maíra Freitas + Diogo Gomes, Ana Frango Elétrico + Luís Capucho + Joana Queiroz e Clara Anastácia + Joca + Rodrigo Maré. Pisa menos, Ju!.

O festival tem apoio da Lei Aldir Blanc.

Um timão de DJs internacionais, como LAU, Andrea Oliva, Gramatik + Luxas, Luciano, o nosso Renato Ratier, Seth Troxler Umek, Yves V e mais vão encabeçar uma transmissão ao vivo de arrecadação de fundos, reunindo os principais clubes de música eletrônica do mundo, em apoio à comunidade internacional de música ao vivo. O evento on-line “The beat goes – A Historic Electronic Music Charity Livestream” terá mais de 40 horas de música e começa à meia-noite desta sexta, 19. Os ingressos custam US$ 3. São 13 casas noturnas, como Egg (Londres), D-Edge (São Paulo), H0L0 (Nova York), Privilege (Ibiza) e Super Dommune (Tokyo), dentre outras.

Gutie, do Rec Beat
Pablo Bispo

Até o dia 27, acontece a 10ª edição do festival Mundo Pensante, com 22 atrações em shows, DJs sets, oficinas e rodas de conversa com foco em gestão cultural, tudo totalmente online e gratuito. Os shows acontecem no próximo final de semana, nos dias 26 e 27, com Anelis Assumpção, Chico César, Di Melo, Funmilayo Afrobeat Orquestra, Luê, Metá Metá e UriaS.

 Entre as rodas de conversa, nesta sexta, 19, tem bate-papo sobre direitos autorais (13h), Festivais Independentes (14h30) com Gutie, do Rec Beat que eu gosto, e Distribuição Digital (16h). No sábado, dia 20, os temas são Agenciamento e booking (13h) e Produção Musical (14h30), com Pablo Bispo, que faz as letras de Pabllo Vittar e outras estrelas. Semana que vem, repasso os shows com dia e hora.

A última noite pré-pandemia foi de muito samba na lona da Lapa. O Circo Voador no ar revive esse momento nesta sexta, 19, às 22h, com o show que Moacyr Luz e Samba do Trabalhador fizeram para lançar o álbum “Fazendo Samba”. Classe. Ainda nesta sexta, a dupla formada pelo músico Rodrigo Sha e pelo DJ Mam apresentam o novo projeto “Jazz Botânico”, dos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, às 21h. 

No sábado, 20, a partir das 18h, rola o II Slam Poético da Ágora Virtual – SÓ PARA ELAS, com minas no comando em homenagem ao mês da mulher. Será o primeiro slam com Laís Lopes como Slam Master. Ainda no sábado, tem Kleiton & Kledir, às 19h, e Wesley Safadão, às 20h. 

Luedji Luna e a artista franco-senegalesa Anaiis fazem pocket show, sábado, dia 20, no 24º Cultura Inglesa Festival, às 19h. Ainda no sábado, logo depois, 20h, tem live de Wesley Safadão.

A Mostra Tiradentes|SP chega a sua 9a edição e ai até 24 de março, em formato online e totalmente gratuito, com 24 filmes brasileiros (13 longas e 11 curtas). A programação completa você pode conferir no site oficial do evento, e os filmes serão exibidos no site do Sesc São Paulo.

Vai até o dia 26 a 7ª edição do Festival de Cinema Baiano (FECIBA), inteiramente gratuito e on line, com 50 filmes baianos (curtas, médias e longas) dos últimos cinco anos. As exibições acontecem no no site do festival e no Youtube.

Nos dias 25 e 26, Baca Bacalhau e Sid Dore promovem edição especial do tradicional Baca Fest, com renda revertida para o estúdio e local de shows Audio Rebel, instituição underground carioca. Tem Lâmnia e Herzegovina, no dia 25, e Tambelini e Richaid, no dia 26, às 20h. Doações pelo PIX audiorebel@gmail.com ou aqui.

Na quarta-feira, dia 24, estreia a primeira série musical   Oritá Metá, com seis show do Metá Metá, mostrando as faces solo de cada um dos integrantes. As transmissões serão sempre às quartas-feiras, às 20h.

Na quinta-feira, dia 25, Letrux e Lovefoxxx participam de bate-papo de camarim íntimo, às 19h, no programa Afetos, da Natura Musical.

Móbile Haikai
Móbile Haikai
Móbile Haikai
ALÉM DO MALTE

A mostra “Sexta Delas”, com cinco filmes dirigidos por mulheres, chega à segunda noite de exibição, hoje, às 20h,  no YouTube da Funalfa e também na TV Câmara (Canal 35,1). 

A sexta terá a exibição do drama “Móbile Haikai”, curta de 20 minutos de Lilian Werneck que conta a história de amor entre duas jovens, uma surda, a outra muda, em uma paixão que extrapola os limites da linguagem. Logo depois, é a vez do documentário “Além do Malte: Cultura, Cerveja e História em Juiz de Fora”, de Mariana Pena. O filme, de 43 minutos, mostra o diferencial da produção cervejeira de Jufas, o pioneirismo da cidade e até a única igreja fora da Europa que produz a bebida, a Igreja da Glória.

A mostra continua na próxima sexta, com mais filmes realizados com financiamento do Programa Cultural “Murilo Mendes, veja a programação completa aqui.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano.  Aqui tem as playlists de 2020.


Playlist com videoclipes, com Djonga, Carol Blazin + Gloria Groove, Luisa Sonza + Bruno Martini + Diarra Sylia, Simaria + Malia + Julia Be, Chico Chico + Mário Lúcio, Papatinho + L7nnon + Nog + Oik, MC Livinho + MC Kaio, Triplx, Metronomy, Duda Beat, Ale Sater, MãeAna, Orquestra Voadora, ÀTTØØXXÁ e +

Sexta Sei, por Fabiano Moreira

1 thoughts on “Sexta Sei: É um avião? Não, é o Siri, o homem pássaro, e seus ninhos maravilhosos

  1. Monica Ramalho says:

    Fabianooo, esse post está demais!
    Não conhecia o trabalho do Siri. AMEEEEI
    E te agradeço demais pelos espacitos belos que você deu pro Festival Dobradinhas + e pro Victor Seixas!
    Simbora!!!

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