Sexta Sei: É coisa nossa: queernejo revoluciona a música sertaneja com talento e gay twist

Movimento, que surgiu com Gabeu, filho de Solimões, como pocnejo, abraça nome mais abrangente, o queernejo, com artistas como Alice Marcone, Gali Galó, Reddy Allor, Zerzil, Mel & Kaleb, Bemti e Sabrina Angel, pura diversão e talento

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Gabeu e Alice Marcone, ícones do movimento queernejo, em momento Iara do clipe de “Pistoleira”

Eu passei a semana preso no clipe cinematográfico de “Pistoleira”, feat de Gabeu e Alice Marcone, artistas que são a ponta de lança do novo movimento queernejo, essa revolução cultural gay em um dos ambientes musicais mais caretas do Brasil, o sertanejo. Também não consigo parar de ouvir o remix de Victor Marsula para “Noite Quente”, de Alice, ou a versão de Gabeu com harmonia sertaneja de “Bandida”, de Pabllo Vittar. Sim, o pocnejo, ou queernejo, como foi rebatizado, gruda como chiclete na cabeça.

Foto: Sillas H.

Bati um papo, com os dois artistas, pelo e-mail, sobre o novo movimento, que inclui artistas como Gali Galó, Reddy Allor, Zerzil, Mel & Kaleb, Bemti e Sabrina Angel, pura diversão e talento, todos reunidos no evento “Fivela Fest”.  Gabeu falou sobre a regravação de “Cowboy Fora da Lei”, do Raul Seixas, que sai sexta que vem, atualizada pelo contexto atual, “com o negacionismo que estamos vivendo em relação à pandemia e com o fato do nosso país parecer estar indo de encontro ao azar”, conta Gabeu. Vem conferir a conversa.

Essa donzela, é “Pistoleira”, com Alice Marcone e Gabeu

Moreira – Quem inventou esse termo, pocnejo? É sensacional demais. Explica melhor o que siginifica. Agora já se fala até em “travanejo”, né, Alice? Eu estou há dias preso no clipe de “Pistoleira”, que ficou lindo demais, e no remix de “Noite Quente”. Também amo o cover de Gabeu pra “Bandida”, ficou demais o lance do feminino vs. masculino, o arranjo, sem falar no seu inegável talento vocal… 

Gabeu – O termo pocnejo surgiu quando lancei “Amor Rural”, foi dado pelo público, não foi algo que partiu de mim, mas decidi abraçar, acho que define bem meu trabalho, pois junta o fato de eu ser um gay afeminado (poc) com toda minha raiz sertaneja. No ano passado, realizamos o “Fivela Fest”, festival que aconteceu totalmente de forma online, com artistas LGBTQIA+ que estão se jogando no sertanejo e mesas de debate sobre representatividade. Sentimos então que, para englobar todos os tipos de corpos e vivências, Queernejo faria mais sentido. Mas pocnejo, queernejo, todas as variações de nejo são muito bem vindas!

“Amor Rural”, marco zero ro movimento

Moreira – Que ideia sensacional regravar “Cowbow fora da lei”, do Raul Seixas, vai sair no dia 13, né? E qual vai ser o outro cover que você vai gravar nesse novo projeto, “Caubói”, e quando sai? Como serão os clipes?

Gabeu – Caubói é um projeto de aquecimento para o meu primeiro álbum, que vem logo em seguida, vou começar lançando o cover de “Cowboy Fora da Lei”, do Raul Seixas, que por mais clássico que seja, tem muito a ver com o contexto atual, com o negacionismo que estamos vivendo em relação à pandemia e com o fato do nosso país parecer estar indo de encontro ao azar. Sobre o segundo lançamento, posso dizer que é uma versão de uma música muito especial de uma banda que tem muita influência a muitos artistas independentes. Preparei duas video-performances que foram gravadas no meio do mato e que estão super divertidas, com looks bem trabalhados. Estou ansioso para que todos vejam.

“Bandida”na versão queerneja

Moreira – Gabeu, me fala mais da relação com o seu pai, Solimões, pelo o que a gente vê na Internet, ele é descolado pra caramba e um fofo, né? Parece te apoiar 200%. E fala mais sobre o seu contato com o universo sertanejo desde pequeno, acredito…

Gabeu – Meu pai me encoraja a seguir meu caminho profissional, ele sempre pontuou que eu devo fazer aquilo que me faz feliz, desde que eu não esteja fazendo mal para ninguém. Eu nasci com a música, sobretudo a sertaneja, dentro de casa, então esse universo se apresentou pra mim muito, muito cedo, não me lembro de um momento em que isso não existiu na minha vida. Mas, por uma questão de não-identificação, acabei me afastando com o tempo, hoje eu tenho essa gana de resgatar o que eu julgo ser positivo da minha cultura, porque é isso, faz parte de mim, tentando brincar e misturar estéticas, narrativas, ritmos e, assim, surge meu pocnejo.

O clipe cinematográfico de “Pistoleira”

Moreira – Alice, ao contrário do Gabeu, experimentou outros ritmos e formatos antes de abraçar o pocnejo, conta como foi essa descoberta e quando saem mais lançamentos tipo “Noite quente”, que gruda na cabeça da gente…. 

Alice Marcone – Por muito tempo, o pop, o rock e os ritmos mais urbanos, cosmopolitas e internacionais eram os que mais me interessavam, talvez até mesmo aqueles nos quais eu mais me sentia acolhida enquanto pessoa LGBTQIA+. Sou little monster convicta e fã de Björk desde que eu era uma travesti camponesa do interior. Amo essas mulheres que constroem uma feminilidade absolutamente irreverente, que dão real densidade para suas obras, me inspiro muito por elas. Por muito tempo, me afastei do sertanejo, especialmente quando surgiu o sertanejo universitário. Sempre gostei muito de Almir Sater, Paula Fernandes, Tião Carreiro e Pardinho, Pena Branca e Xavantinho, entre outros, que exploram um sertanejo mais caipira, romântico e referenciando a cultura popular dos interiores – especialmente quando eu morava na roça e via essa músicas falando muito dos meus sentimentos e vivências. Quando o sertanejo se torna uma linguagem urbana, falando de balada, bebedeira, de uma forma totalmente heterossexista e cisnormativa, me afasto completamente do gênero. Depois de anos trabalhando com o pop, comecei a questionar essa linguagem, por sentir que havia algo desterritorializado nessa minha pesquisa dentro do gênero. Eu me via olhando muito para fora, para longe, e pouco para dentro, para perto. Foi então que, depois de anos de pesquisa pessoal, surgiu a ideia de cantar sertanejo, que só se intensificou quando me deparei com o trabalho de Gabeu e Reddy Allor. Foi então que eu decidi, definitivamente, mergulhar nesse gênero. Conhecer outras pessoas LGBTQIA+ fazendo sertanejo foi essencial no meu processo. Eu não parecia mais tão louca, essa ideia tão nova e revigorante parecia possível e maravilhosa. Então, aproximando-me de Gabeu, pude conhecer o produtor Fabrício Almeida, que trabalha com nós dois, e pude começar a de fato explorar o sertanejo. Mas, se quer saber, “Noite Quente” foi uma música que eu tentei produzir três vezes, em gêneros e linguagens diferentes, com produtores diferentes, e só quando eu entendi que ela era uma música sertaneja ela conseguiu fazer sentido pra mim. Como eu disse, tenho muitas referências musicais no gênero sertanejo mais caipira e romântico, isso sempre fez parte da minha formação musical e pessoal. Agora, começo a me reconectar com uma musicalidade do sertanejo mais contemporâneo e universitário, ressignificando esse espaço que foi totalmente opressor para mim, e percebo que não estou sozinha, não só pelos artistas do queernejo, mas também por essa onda de mulheres no sertanejo que vem pautando várias questões sobre a presença feminina na música. Atualmente, estou produzindo um álbum com o Fabrício Almeida, mas a pandemia congelou totalmente a produção, pois o estúdio tem muitos músicos, de várias cidades, e para respeitar o isolamento está com todas as atividades interrompidas. Portanto, não sei dizer quando será possível seguir produzindo minhas músicas, mas já tenho a maioria das músicas do álbum encaminhadas.

“Noite quente”, de Alice Marcone

Moreira – Temos mais artistas nesse guarda-chuva do pocnejo?

Gabeu – Existem mais artistas fazendo Queernejo sim! Grande parte deles, inclusive, performaram no “Fivela Fest”, o primeiro festival de Queernejo, todos nós partindo desse mesmo principio, de colorir um pouco mais o gênero, mas cada um com sua particularidade e com um trabalho muito único. Além de mim e Alice, temos Gali Galó, Reddy Allor, Zerzil, Mel & Kaleb, Bemti e, se tudo caminhar como tem caminhado, teremos mais e mais. Um dos meus desejos pessoais é que a gente destrua essa ideia de que certos lugares, certas posições, gêneros musicais, cargos, não foram feitos pra nós, e reivindicar mesmo o que também deve ser nosso, olhar e dizer “isso aqui também me pertence”, “isso também faz parte da minha história”. Pra mim, é muito doloroso pensar que eu preciso apagar parte do que eu sou por uma outra parte que também é muito forte, eu  quero achar um caminho onde ambos aspectos da minha pessoa, o meu eu gay afeminado e o meu eu caipira consigam caminhar juntos, respeitando a minha verdade e lutando pra fazer a diferença.

Alice Marcone Sim! Temos Reddy Allor, Gali Galó, Zerzil, Mel & Kaleb, Sabrina Angel e, provavelmente, muitas outras pessoas que ainda não conhecemos. Para dar conta de todas as identidades LGBTQIA+ dentro do nosso movimento, estamos chamando ele de “queernejo” agora, e não “pocnejo”.

Abaixa que é tiro!??

Alcione faz show especial de Dia das Mães, neste domingo (9), a partir das 20h30, no canal TNT e no YouTube, com apresentação de Teresa Cristina. O show é uma promoção do Coala.LAB, núcleo de projetos especiais do Coala Festival. Alcione mete 1h30 de clássicos, como “Você me Vira a Cabeça (Me Tira do Sério)”, “Meu Ébano” e “Não Deixe o Samba Morrer”. Com Teresa, ela cantará  “Pode Esperar”. Outra live no clima da data reúne, também no domingo, Fafá de Belém e Mariana Belém, às 16h, e Ivete Sangalo, às 18h.

Anelis Assumpcao
Josyara Foto: Julia Rodrigues
Clarianas

Este finde tem mais uma rodada do Festival Femininodomingo, dia das mães, tem Funmilayo Afrobeat Orquestra (13h),Alessandra Leão (13h15) Clarianas (15h), Josyara (17h) e Anelis Assumpção (19h). Os shows acontecem no topo de um edifício de São Paulo. Chique.

Grupo Corpo realiza, todas as sextas de maio, às 19h30, mais uma temporada de workshop de dança online, gratuito e para todas as idades, por meio do canal do YouTube. Qualquer pessoa pode ter o privilégio de dançar virtualmente com os bailarinos profissionais. As aulas serão inspiradas em movimentos dos espetáculos “Nazareth” , “O Corpo”, “Breu” e “Gira”. As inscrições podem ser feitas aqui.

Craca Beat no Festival AVXlab
Moreno Veloso Circo Voador no Ar Foto: Felipe Diniz
Silva

Hoje (7), às 20h30, no YouTube, o artista Craca Beat que eu gosto reprisa experimento audiovisual político que apresentou, semana passsada, no Festival AVXlab. “São 45 minutos de musica e videomapping, intercalados com intervenções não autorizadas feitas com imagens e falas de pessoas repugnantes, como Silas Malafaia, Marco Feliciano, o jornalista Constantino (…), mas também momentos sublimes com Galeano e Noam Chomsky dando a fita da real”, explica o artista, pelo Instagram.

O Circo Voador no ar da sexta (7) traz  show de Moreno Veloso em 2016, quando subiu ao palco da Lona para apresentar o seu primeiro disco solo, “Coisa Boa”.

Nesse sábado (8), às 17h, Silva apresenta pela primeira vez ao vivo “Cinco”, seu mais recente álbum, o décimo de carreira. Silva (voz, violão e piano) será acompanhado por Hugo Maciel (baixo), Juninho Preto (guitarra), Gabriel Ruy (bateria), Anderson Xuxinha (percussão), Bruno Santos (trompete), Betinho Barcellos (trombone) e Tiago Veloso (sax).

Também no sábado (8), às 20h, a banda pernambucana Jorge Cabeleira e o dia em que seremos todos inúteis faz show online com repertório dos três discos da carreira. O vocalista Dirceu Melo participou de Lisboa, em Portugal, e os outros integrantes do grupo, todos juntos, de Recife.

Na próxima quinta (6), às 20h, começa uma série de quatro estreias no YouTube da Orquestra Petrobras Sinfônica. O primeiro concerto é a “Gran Partita”, de Mozart, regida pelo maestro convidado Thiago Santos.

Hoje, meia-noite, entra no ar, no YouTube, o DVD “Macumba (Ao vivo em Recife)”, mostrando o show da turnê em 2016 na terra natal do artista, Johnny Hooker. Esse deslumbre de arte é do Ramonn Vieitez, o mesmo da capinha de “Abandonada”. O repertório é baseado no excelente disco de estreia, “Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito”, vencedor do Prêmio da Música Brasileira. O show teve participações de Otto, Karina Buhr, Isaar e Fafá de Belém. Viva Recife.

Pôster do filme por Cau Gomez

Estreou em março, no Golden State Film Festival, em Los Angeles, o documentário “Lula Lá: De Fora Para Dentro”, da juizforana Mariana Vitarelli Alessi. O filme ganhou menção honrosa no XIX Cine Pobre Film Festival 2021, no México, e será exibido, até 16 de maio, no Spirit of Cinema Awards, festival que acontece na plataforma on demand independente AlohaStream, da California (USA). O filme também foi selecionado para o mexicano Oaxaca FilmFest 11, que acontece em junho.

O filme foi realizado de forma independente, com recursos próprios, e levou 14 anos para ficar pronto para contar a versão da história que a grande mídia não mostrou. Foi finalizado com o apoio de um financiamento coletivo. O filme traz depoimentos de Lula, Dilma Rousseff, Leonardo Boff, Jean Wyllys, Benedita da Silva, Chico Alencar, Celso Amorim, Eduardo Suplicy, Olívio Dutra, Chico César, Otto, Armandinho, Luiz Carlos Barreto, Jessé Souza e até de Ariano Suassuna e Oscar Niemeyer, que já não estão mais entre nós.

O Estúdio Escola de Animação (EEA) abre inscrições para a nona edição de seu curso de formação remota gratuita entre os dias 10 e 23 de maio. Em seis meses, os alunos produzirão coletivamente quatro curtas, 100% autorais. Das edições passadas, 40% dos alunos estão empregados em estúdios.

As aulas acontecem três vezes por semana (segundas, quartas e sextas, em dois horários: das 8h às 11h e das 19h às 22h). É o segundo ano que o curso será feito de forma remota, e são 45 vagas em três turmas. Os alunos aprendem a fazer maravilhas como essa.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano.  Aqui tem as playlists de 2020.


Playlist com os incríveis videoclipes da semana, que começa e termina com MC Kunumi e ainda traz Criolo, Anitta, Afrocidade + Mahal Pita, Furio,  Ana Moura, Julio Secchin + Maria Luiza Jobim, Baby Keem + Travis Scott, Greyson Chance, MC Rashid + Chico César, Lurdez da Luz + Quebrante, Rincon Sapiência, Filipe Mariz, Jessie Ware, Miley Cyrus, Little Mix e +  

Sexta Sei, por Fabiano Moreira