Sexta Sei: Uma festa só eu e você, mais ninguém, ao som do novo disco do NoPorn

A musa do eletrônico nacional Liana Padilha chega ao terceiro disco acompanhada pelo jovem novo parceiro Lucas Freire

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Foto: Aruan Viola

“Vou te chamar pra uma festa / Uma festa no meu quarto / Só eu e você mais ninguém”, recita a musa das pistas Liana Padilha, entre linhas funkeadas de programação eletrônica, em “Festa no Meu Quarto”, a faixa que abre “SIM”, o terceiro disco do duo NoPorn, que chega hoje às plataformas digitais e está bem longe de alcançar as pistas nesses tempos pandêmicos. Luca Lauri é parceiro na composição de três faixas, mas é o jovem Lucas Freire quem está na nova formação do duo, que chega a uma terceira era de inventividade e relevância na cena nacional.

Capa de SIM por nenhumestudio 

Para clubbers que, como eu, tiveram o caráter forjado por “Baile de Peruas”, música que foi trilha do desfile de André Lima e composta com trechos de gongos de críticos de moda ao estilista, o novo disco chega em boa hora. Reflexivo, introspectivo, melódico, melancólico e viajante é, enfim, mais adequado aos tempos. O flerte com as pistas, a comunidade clubber e gay continua, como mostra o clipe de “Pérola Suja” , com a turma do coletivo Azagatcha causando muito.

Lives de verão do NoPorn, tomei um espumante rosa pra cada uma delas

A química da dupla já foi provada em uma série de seis lives postadas no YouTube, com um tratamento de imagem que é a cara vanguardista de Liana, artista formada pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage. “Curadora gringa, curador sarado”, brinca a letra de Praia de Artista”, mais uma parceria com o estilista André Lima no novo disco. “O NoPorn – que é do rolê – descobriu que ninguém morre de ficar em casa: A pista é a exceção”, diz o release assinado por Erika Palomino, papisa absoluta da era clubber nacional.

“Pérola Suja”, do novo disco, ganhou clipe produzido em parceria com o coletivo Azagatcha

Batemos um papo, por e-mail, para falar do novo disco, sucessor dos bons NoPorn(2006) e BOCA(2016), e dos novos tempos e novas sonoridades, mais jazzy e groovy. Passamos pelo canto-falado e pela repetição, características que marcam a trajetória de Liana, essa poetisa clubber, e tratamos de apresentar bem o Lucas, parceiro de Liana em outra banda, a Tintapreta, que chegou agora e já é muito querido. Espero que curtam.

Moreira – Acho que o ano era 2003, auge do Electroclash, eu fui ao Rio para ver um show da Miss Kittin e, dias depois, o José Camarano me levou para uma festa de Réveillon na casa do Rogério S que tinha um show do NoPorn, ainda com Luca Lauri. Aquilo marcou a minha vida, sabia? O NoPorn volta agora com release de Erika Palomino, letra em parceria com Jackson Araújo, é um convite a revivermos esses tempos mágicos? E o que mudou?

Liana – Oi Fabiano, que bom falar com você. A poética do NoPorn trabalha com um recorte da cena e da música eletrônica do século XXI. O Jackson colabora com a gente desde o primeiro álbum, “Sonia” do disco de estreia, é dele, e “Fumaça”, do álbum BOCA, também. O André Lima tem “Baile de Peruas” no primeiro disco, “Maiô da mulher maravilha” no BOCA e, agora, “Praia de Artista”. Além do Tuti Giorgi, que fez “Amor” e “Fim de tarde” comigo no primeiro álbum, “Tanto” no BOCA e agora “Baba bombom”. Enfim, tem o Luca Lauri também, eu adoro parceiros fixos, e a Erika é amiga e me conhece  (desde o começo) antes do NoPorn, conhece meus trabalhos em todas as áreas e conhece bem o “mundinho” onde o NoPorn nasceu. A ideia é mais ser uma crônica de histórias da noite. São três álbuns e três cenas, a do Electroclash, nos 2000 e pouco, a mais Techno de 2016 e agora, com o Lucas Freire, são outras referências sonoras, é mais jazzy e mais groove, tem a ver com o tipo de som que gostamos de ouvir e dançar nesses tempos. Acho que ficou mais brasileiro, mais soul e com uma vibe romântica do fim do mundo. São discos para dançar e pensar sobre a noite e suas ondas.

Baile de Peruas, o grande hit

Moreira – Liana não canta, mas declama as letras, tão aparentadas que são da poesia. Liana já pensou em escrever prosa ou poesia em livro? Ou é algo vocacionado mesmo para a gravação e o palco?

Liana – Eu sempre ouço uma voz lendo na minha cabeça, rsrs. Meu jeito de falar que é meio cantado, narrativo. Chamam canto-falado mas, no meu caso, é como as coisas, questões e sentimentos nascem na minha cabeça. Eu busco frases e palavras sobre a música. Por isso a repetição que, pra mim, soa como um negrito. Não sei se um dia farei livros, quem sabe? Mas acho que as músicas do Noporn  já são textos e que os álbuns já são livros, narrados, musicados e cheios de histórias. Histórias minhas, dos amigos, que vejo, que me contam, são histórias do nosso tempo. 

Moreira – E o Luca Lauri? O que anda fazendo? Li em algum lugar que está estudando. Vi também que ele assina a composição de algumas faixas do

novo trabalho e que assinou o remix de “Circuit Break”, o retorno do NoPorn. Ele continua no grupo?

Liana – O Luca Lauri fez mestrado, estuda, seguiu outros caminhos profissionais e não conseguia estar em todos os shows do Noporn. Eu fiz outra banda, no Rio, o Tintapreta, com o Lucas Freire, Cassius Augusto (que colabora com o Noporn em Pérola Suja) e outros amigos, e o Lucas Freire começou a tocar comigo no Noporn quando o Luca não podia. Então, nesses shows, a gente começou a criar músicas juntos, e elas eram « puro » Noporn. Foi natural e está tudo aqui pra quando o Luca puder fazer músicas e shows com o com a gente.

Foto: Marlon Brambilla

Moreira – Queria que o Lucas se apresentasse e contasse mais sobre ele, como foi entrar no projeto, conta um pouco a sua história. 

Lucas –  Conheci a Liana na noite do Rio, quando ela e o projeto Tintapreta estavam fazendo vários shows. Eram vários amigos em comum no projeto, e foi ali que surgiu a afinidade. Eu não conhecia o Noporn antes disso. Sou músico, fui baterista de algumas bandas cariocas (Séculos Apaixonados, Dorgas) e sempre curti muito os variados sons da cena noturna. Quando a Liana me propôs fazer os shows do Noporn com ela, achei aquilo muito excitante e novo – eu nunca tinha feito som eletrônico ao vivo; no máximo tinha me aventurado um par de vezes na discotecagem em festas de amigos. Meu primeiro show com o Noporn foi muito bom, no Carnaval de 2018, na festa O/nda, e desde lá já fizemos muitos shows em festas e festivais pelo Brasil, criamos músicas e montamos um pequeno estúdio. Agora estamos aqui, com uma história inédita do Noporn pra contar com este novo álbum.

Liana no clipe de “Pérola Suja”

Moreira – O disco sai no meio da quarentena, a gente meio sem saber se um dia ainda poderemos compartilhar uma pista de dança como antes. No Brasil, então, tudo parece um pesadelo sem fim. Isso tudo influenciou a composição do disco? Saber que não cairia diretamente na pista de dança? O release fala que “o NoPorn – que é do rolê – descobriu que ninguém morre de ficar em casa”. “Sim” fala de “uma festa no meu quarto”…

Liana – Acho que nunca será como antes, não sei como será. Mas estamos buscando e continuamos fazendo música e poesia, que é a forma que temos de expressar o que sentimos diante do mundo. Estamos testando outras formas de entretenimento, outros meios de poder divulgar nossa música e esperando as soluções sanitárias para o controle dessa pandemia. Continuamos fazendo festas mas de outra forma, em casa, online, se isso vai ser o normal ou o que isso vai virar, não sei. O álbum novo também é sobre isso, sobre o que você faz com questões como: Estar junto? Estar sozinho? Dançar pelado?  Chorar, sair pra rua? se montar pra ficar em casa? Fazer sexo virtual? E o desejo? E o Afã? Perder pessoas? Perder um país? Perder? Se transformar continuamente? Ou ficar parado assistindo o declínio da civilização? Questões que orbitam nossas cabeças todos os dias, como: amor, sexo, dor, entrega, solidão, arte, moda, etc. A gente já tava fazendo o disco quando isso começou, só continuamos criando porque é uma  forma de resistência, de estarmos alertas e vivos.  O mundo está cada dia mais perigoso e cheio de “Nãos”, por quais coisas a gente ainda luta e diz “SIM”? 

Moreira – Queria agradecer por vocês terem voltado, fez falta demais. Eu sou muito lianer, fã mesmo, vi todas as lives da quarentena 😉

Liana – Ahhh querido, muito obrigada por estar perto nesse momento.

Abaixa que é tiro!??

Giovani Cidreira
Edgar
Jup do Bairro

Sábado e domingo (17 e 18) rola o Festival Nossos Palcos, com shows a partir das 17h. No sábado, tem Jadsa e João Milet Meireles, do BaianaSystem, tocando o bom EP Taxidermia (17h), Giovani Cidreira (18h15) e o novíssimo Edgar que eu gosto (19h30). No domingo, tem Jup do Bairro (17h), Souto MC (18h15) e Drik Barbosa (19h30). Os shows ficam disponíveis por uma semana no YouTube.

Supla
Dead Fish
Autoramas
Wander Wildner

A associação cultural Central do Rock lança o programa de auditório ao vivo e online Sala Central, com quatro episódios, sempre às 16h . A cada edição, rola um convidado principal, duas bandas e um artista visual que criará obra com o tema de cada apresentação.

Anota o line, o último nome da lista é do artista plástico, após o símbolo de +: Wander Wildner, Monstrenga, Djamble +  ETE (sábado, 17),  Supla, Cardiac, Cavaleiro Dragão + Carol (18), Dead Fish, Insulto, Contra Regras + Carlão (24) e Autoramas, All Is Allowed, Bellini Rock + Waldomiro Mugrelise (25).

Roberta Sá
Filipe Catto
Carlos Bracher
Rômulo Froes

O  Circo Voador no ar chega hoje, às 22h, trazendo show que Roberta Sá fez, em 2019, para lançar seu sexto álbum de estúdio, “Giro”, só com músicas de Gilberto Gil. Na banda, tem Bem Gil (guitarra), Alberto Continentino (baixo), Danilo Andrade (teclado) e Domenico Lancellotti e Marcelo Costa (bateria e percussão). 

Antes, hoje tem Maria Luiza Jobim no Sesc em Casa, às 19h. Amanhã, Almério é o convidado do projeto, no mesmo horário. Logo depois, 20h, tem live do Péricles.

O Festival SP Choro in Jazz vai até domingo (18), reunindo 22 instrumentistas de destaque na cena paulista do choro, do jazz e da MPB. Tem Rodrigo Eisinger & Edu Guimarães Duo (hoje, 19h), Choro pro Santo (dia 17, às 19h), Conjunto Retratos (18, às 11h) e Beba Trio e convidados (18, às 18h).

Continua a programação do Festival O Berro que eu Dei, do coletivo OAndarDeBaixo. Hoje, às 20h, tem o espetáculo “Balé Ralé”, do Teatro de Extremos. No sábado, às 18h30, tem live com as drags finalistas da Batalha e, às 20h, espetáculo “Família Virtual”, pelo Zoom. No domingo, é a vez dos espetáculos “Método Rítmico”  (18h30) e “SER: Experimento para tempos sombrios” (20h). Ainda tem espetáculo na segunda, 20h, “Sui Generis”, da Cia Fundo Mundo.  

No dia 20, Filipe Catto segue com a sequëncia de lives maravilhosas “Love Catto Live”, às 23h59, recebendo Letrux para cantar “Garotas barra-pesada”, especial cantoras transgressoras com Maysa, Amy Winehouse, Courtney Love, Fiona Apple e Britney Spears. No dia 22, no mesmo horário, ele recebe Zélia Duncan para a noite “Como uma virgem tocada pela primeira vez”, especial Madonna.

No dia 21, Carlos Bracher bate-papo, on-line, às 19h, com Silvestre Gorgulho, falando sobre Brasília e a série de mais de 60 quadros do artista, tudo em comemoração aos 61 anos de fundação da capital. Também será exibido o documentário “Âncoras aos céus”, de sua filha, Blima Bracher, sobre a pintura da série.

No dia 21, às 20h, segue a série Oritá Metá, do Metá Metá, com Thiago França apresentando show do disco “Kd vcs”, gravado na casa do músico.

Corpobolados Foto: Martha Reichel
Carta Branca
Corpo Inquieto Foto: Tânia Meinerz
Atma Foto: Pedro Lunaris

O Festival de Circo Contemporâneo (Fecico) é 100% on-line e gratuito e rola entre os dias 20 e 25, com produções circenses contemporâneas. Tem espetáculos, mostra de videocirco e lives com temas que vão de festivais a mulheres e lgbtqi+ no circo, além de oficinas de produção audiovisual e elaboração de projetos. Entre os espetáculos, sempre às 20h, estão o gaúcho ‘’Corpobolados’’ (dia 21), “Carta Branca’’, da paulistana Cia. Do Relativo  (22), ‘’Corpo Inquieto’’ (23), ‘’Das Amarras Dela’’, do Circo Híbrido (24) e “Atma” (25). A transmissão é pelo YouTube. Cata a programação completa aqui.

Foto: Candé Salles

Sexta passada, Marina Lima deu ao mundo o EP “Motim” e também um songbook completo com partituras e letras de toda a sua obra como compositora, intérprete e arranjadora em 21 discos. São 175 canções transcritas por Giovanni Bizzotto, músico que a acompanha desde a década de 1990 e foi seu professor de violão. 

“Quando comecei a aprender a tocar, ainda garota, comprava todos os songbooks que havia. Eu sempre gostei e sei que esse tipo de material ajuda muito quem quer se desenvolver”, relembra Marina. E o melhor? Tudo digrátis, jovem, só baixar e aproveitar. Com essa ação, ela encerra seu compromisso de lançar somente álbuns e abre mão do formato fonográfico, aberta a projetos especiais, EPs, trilhas sonoras, singles… Viva Marina.

As livezinhas temáticas do projeto Grandes Músicos para Pequenos estão de volta, a partir de 18 de abril, às 16h, com apresentação do premiado espetáculo “O Menino das Marchinhas – Braguinha para Crianças”. Com direção de Diego Morais, a peça vai ser exibida no Facebook e no Youtube

Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, foi compositor, cantor e produtor, conhecido, principalmente, por suas marchinhas, mas também criou músicas infantis, canções para festas juninas e sambas. Na trilha sonora, tem sucessos como “Balancê”, “Cantores do Rádio”, “Pirulito que bate”, “Carinhoso”, “Chiquita Bacana”, “Pirata da Perna de Pau”, “Tem Gato na Tuba” e “Yes, nós temos bananas”. A mesma série já homenageou Luiz Gonzaga e o nosso Bituca.

O Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades comemora 20 edições, este ano, entre os dias 22 e 27 de junho, com uma mostra on-line com os destaques dos últimos 19 festivais. O evento, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, ainda terá laboratório e um concurso. O Laboratório de Curtas selecionará um trabalho a ser produzido, com prêmio de R$ 9 mil. Já o Concurso de Argumentos selecionará um projeto de longa para receber uma consultoria especializada on-line. As inscrições podem ser feitas até 14 de maio, pelo site.

Playlist com as novidades musicais da semana. Nesse post, tem todas as playlists do ano.  Aqui tem as playlists de 2020.

Playlist de clipes com Royal Blood, Years & Years, Doja Cat + SZA, Japanese Breakfast, Shaed, Gilsons + Jovem Dionísio, Bomba Estéreo, Tierra Wack, MARINA, YelaWolf, Febem, MC Caverinha, Nêssa e Crinista do Morro, Villa + Tropkillaz, MC Don Juan + TH CDM, MC Meno K + MC Ryan SP,  Pedro Mann, Wizkid, Getúlio Abelha + Filipe Catto e Nego Max

Sexta Sei, por Fabiano Moreira