Lagarto Dubz EP

por Gramboy

Guilherme Lignani, aka Lagarto, o maior frequentador de eventos independentes de Jufas, lançou um EP produzido a partir de uma vasta parafernália de hardwares, baterias eletrônicas e sintetizadores em seu homestudio, digno de um bom acumulador de timbres.

Baixista da banda Duplo Deck e DJ desde 2001, Lagarto tem um amplo conhecimento e nós sempre trocamos idéias sobre o reggae do final da década de 70 produzido pela dupla Sly & Robbie, o inicio do rub a rub/dancehall, e muitas outras informações sobre a música jamaicana. Lagarto tem ótimas sacadas discotecando clássicos da disco music como And the Beat Goes on dos Whispers e é um grande conhecedor de rap underground como Jurassic 5, De La Soul, People Under the Stairs. Pra fechar o portfólio, um catálogo físico da gravadora Stones Trhow, em Jufas, com essa pegada neo soul de artistas como Mayer Hawtorne e Anderson Paak.

Para essa introdução não virar um livro de referências, vamos as perguntas pra esse cara da testa franzida que faz uma discotecagem impecável e já foi a, no mínimo, 80% dos eventos produzidos na cidade.

No seu EP eu saquei uma unidade interessante entre os sons, você pensou em algum direcionamento na produção?
O fato de eu usar somente uma drum machine, alguns synths e pedais de efeitos limita um pouco o universo de timbres disponíveis e traz uma certa unidade. Quando se trabalha com software e instrumentos virtuais as possibilidades são infinitas, por outro lado, corre-se o risco de ficar refém de timbres “da moda”, que em pouco tempo podem deixar o som datado (pro bem ou pro mal).

A da hora! E como foi o processo de produção? Quanto tempo você trabalhou nele?
Flatline eu fiz em 2016, as outras foram feitas entre o final de 2018 e o final de 2019. É bem descompromissado, um passatempo mesmo.

Produziu algumas faixas que não entraram também?
Ah, sim. Tem algumas mais antigas e outras mais recentes que talvez eu solte mais pra frente.

Indo um pouco além dos timbres, essas faixas têm alguma temática mais direta?
Acho que a ideia é pegar as influências do dub e dancehall e misturar com ficção científica, cyberpunk, distopias… rs

Tem algum produtor ou grupo que te influenciou nesse processo?
O que eu mais curto atualmente é o The Bug. Gosto muito do Adrian Sherwood e os sons do seu selo On-u-sound, Disrupt e seu selo Jahtari, Seekers International, Jay Glass Dubs, Matt Shadetek… Também tenho ouvido Tricky e Massive Attack.

Pode crer! E como eram as festas nessa época?
O Muzik tinha muita música ao vivo nessa época, de bandas locais e também de fora.  Eu tocava muito nessas noites, antes e depois dos shows.

Hoje em dia (ou antes do fim do mundo) o que você curte mais tocar?
Eu já não tenho tocado muito, mas sempre curti misturar: reggae, rap, funk, soul…

Sempre trocamos muita ideia sobre música jamaicana… como você começou a se ligar na música da ilha?
Não sei muito bem como veio o interesse. Nos anos 90 era mais difícil o acesso à informação e aos sons. Mas me lembro de algumas edições especiais da revista Bizz sobre reggae, que vinham com CD’s que tenho até hoje.

Como você enxerga o cenário independente da cidade?
Tem muita coisa boa rolando, mas agora tá mais difícil do que nunca, né? Só espero que artistas e produtores consigam sobreviver à essa loucura que estamos vivendo ?

Como bom frequentador de eventos, liste 5 shows que você mais curtiu na cidade!
Nossa, aí eu vou entregar mesmo a idade…

Geraes Rock Festival: um festival com Chico Science & Nação Zumbi, Planet Hemp, O Rappa, Raimundos e Pato Fu no campo do Tupinambás, em 96. Yellowman no ginásio do Sport, também em 96! O Rappa no pátio da Academia, em 97, bem antes da banda virar essa farofada com letras de auto-ajuda que é hoje. Mundo Livre S/A no Cultural antigo, acho que em 2004. E Israel Vibration no Cultural ano passado. Esse valeu muito a pena pela presença do lendário baixista Errol ‘Flabba’ Holt, da banda Roots Radics. Ah, teve um show de graça dos Paralamas na praça cívica da UFJF, acho que em 99, que também foi massa.

Já ia me esquecendo do Jorge Benjor de graça na Av. Rio Branco, em frente à prefeitura, num pré- reveillon. Não tenho certeza de quando foi, talvez 2000 ou 2001.

Yellowman até hoje não acredito, mas beleza, rs…
Tenho provas kkkk

Você me quebrou na primeira resposta porque tá bem completa a respeito do que você usou. Porém, queria saber mais sobre essa acumulação de synths e baterias eletrônicas. Como é a montagem desse setup? Fale sobre mais características que essas parafernálias proporcionam.
Acho que isso veio a partir de uma curiosidade que eu tinha desde moleque, o que é um sampler? Como funciona um sintetizador? Então, depois de velho, eu acabei comprando uma drum machine pra brincar de programar umas batidas.  Depois veio um sampler, e aí um primeiro sintetizador (um Yamaha CS01 da década de 80, que foi bastante usado por produtores de reggae pra fazer linhas de baixo).

Já há uns bons 20 anos é possível pra qualquer um produzir um disco com um notebook simples e um software pirata, e isso é maravilhoso! Por outro lado, vários fabricantes têm lançado sintetizadores simples e baratos (ao menos para os gringos. Pra gente, com o dólar chegando a quase R$ 6,00, tá foda), como a linha Volca, da Korg, ótimos pra quem produz em casa e tá começando a se interessar por sintetizadores.

Quais baterias eletrônicas você considera emblemáticas e ainda tem vontade de adquirir?
As mais clássicas são as CR-78, TR-606, TR-808 e TR-909, da Roland, Linn Drum, Oberheim DMX.. Ter uma dessas original é difícil até pros gringos… mas existem clones e até apps com os timbres dessas drum machines.

Agora ficou redondo! Tem mais algum detalhe da produção que você queira contar?
Acho que é isso!

Quando começou a discotecar e o que você tocava na época?
Comecei meio por acaso em 2001 e acabei substituindo um amigo que era residente do Muzik. Cheguei a tocar house durante um tempo….

Pra finalizar então, 5 festas!
Putz, aí é difícil! Quando cês trouxeram o Jurassic e Bangarang…. aquela Bang Vs. Da Ponte no Museu Ferroviário… várias noites do Vinil é Arte no Academia Café (acho que era esse o nome) ali na rua Tiradentes, acho que em 2003/2004… E muitas noites no Muzik na primeira metade dos anos 00’s

3 livros musicais da sua coleção.
“Como funciona a Música” do David Byrne. Nesse livro ele dá uma geral na carreira dele e no que ele aprendeu sobre música ao longo desse tempo.

“Reggae – Música e cultura da Jamaica” de Stephen Davis e Peter Simon. Esse livro eu achei num sebo há muito tempo atrás.  É de um jornalista que resolveu ir pra Jamaica no final dos anos 70 pra entender o que era o reggae e o que estava acontecendo por lá. Foi bem importante pra eu aprender um pouco mais sobre reggae.

“Beat Box- A drum machine obsession”, do Joe Mansfield, um colecionador de drum machines. No livro ele mostra a evolução desses equipamentos através de modelos clássicos e obscuros.

Só força meu velho!! Valeu pela atenção. Queremos mais sons e mixtapes do Lagarto!
Valeu!

Lagarto Dubz ao vivo

Foto: Gabriela Zuniga Fu

LIVE PA: CLUBE NCSSR

18 de abril de 2020

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