por Nicolai Guanabara
ilustração: Yelena Marques
Vinte e quatro de fevereiro de 2022, data de início do movimento de contenção articulado pelo presidente Putin em território ucraniano, constitui, até o momento, o marco de uma nova ordem mundial, caracterizada pela multipolaridade.
Desde a derrocada da União Soviética no início dos anos 90, os EUA, maior economia mundial então, passaram a figurar como protagonistas de uma ordem mundial, calcada em um ressurgimento de um neocolonialismo.
No âmbito europeu, nada obstante um certo ressurgimento pós segunda guerra, fato é que tão somente a Alemanha poderia vir a competir em áreas específicas com a potência americana. O mesmo se diga para o Japão, que, junto com Reino Unido, Austrália e Canadá fazem as vezes de lacaios dos ianques, conformando-se em exercerem um papel de figurantes desde que lhes sobrem os ossos da exploração pesada sobre países africanos, asiáticos e sul-americanos.
A esse propósito, é fato conhecido em Washington que os EUA se referem aos países integrantes da América Latina como seu “terreiro”.
Sob esse contexto devem ser vistas as invasões americanas sobre os territórios do Iraque, Líbia, Afeganistão e tantos outros, levadas a cabo sob pretextos diversos, notadamente da ausência de democracia em tais regiões.
Os EUA alimentam-se da guerra. Períodos longos de paz não lhes interessam, posto que podem vir a ameaçar uma economia interna que, pouco a pouco, vai se revelando uma ficção. Para isso precisam dominar o comércio do petróleo que lhes falta, pareando o valor com o dólar que não para nunca de ser impresso. Aliás, interessante a coincidência de que, quando empalado por militares bombados de viagra defronte à população, Muamar Gadaffi ventilava ideias de criar uma moeda única africana, lastrada em ouro. À época, a Líbia era o maior IDH africano. Hoje exporta escravos e trafica mulheres, que desembarcam em solo italiano, sem que as autoridades europeias esbocem qualquer tentativa de acabar com a horrenda prática.
Da guerra e do tráfico. Não é segredo que uma população que faz uso massivo de drogas é um povo servil, alheio ao que ocorre em âmbito fora de seu “mundo”. Isso remonta ao menos à Guerra do Ópio. Não à toa inexistem políticas eficientes que reprimam de maneira efetiva o tráfico ou mesmo promovam um consumo consciente e razoável.
Adicione-se a isto a exportação do dito american way of life, que estimula o consumo massivo de bens dos quais ninguém precisa, inclusive produções audiovisuais que visam à completa alienação mental do cidadão médio, e uma mídia canalha, que nega que hoje, na Califórnia, o número de indigentes, moradores de rua, é maior que em muitas repúblicas da América Central, e o serviço está feito.
Até o dia 24/02/2022, pelo menos. Putin tem a visão de um jogador de xadrez. A ação controlada russa sobre a Ucrânia (um país infestado de neonazistas e que tem como principal fonte de renda a exportação de pornografia infantil e tráfico de mulheres) é o marco da nova ordem multipolar.
A ação militar foi realizada sob as barbas da OTAN, comandada pelos EUA. A primeira, pelo visto, terá como reação única a “condenação”, as “chamadas pela paz”, e toda essa retórica já conhecida. Já os EUA e seus lacaios partiram para as previsíveis sanções econômicas, inclusive com a retirada dos bancos russos do sistema Swifit (manobra habilmente refutada por Putin e Jinping, que já desenvolveram sistema mais eficiente e independente).
Natural que tal reação era esperada por Putin. E o que ele faz? Espera. As sanções não lhe incomodam, têm a China como aliado econômico estratégico. A Europa Ocidental precisa mais da Rússia do que Rússia de todos os países europeus. O ocidente esperava uma ação militar de grande vulto sobre a Ucrânia, mas o que se viu foi um jogo. Putin quer mais, não há verdadeiro interesse em bombardear um país que já estava à bancarrota. Ele esperou os EUA e a OTAN. O que recebeu foi um discurso previsível de um velhote senil, Biden, com o mesmo conteúdo de sempre.
E a mídia brasileira nisso tudo? A mídia acabou, foi vendida aos interesses do capital, notadamente sionista. Putin é pintado como um terrorista, um genocida e por aí vai. A imprensa não se aprofunda o mínimo necessário para que se compreenda que o território ucraniano servia de zona de amortecimento para os mísseis instalados pela OTAN em países vizinhos e que miram diretamente a Moscou. Não se aprofunda para informar que as regiões do Dombass são de maioria russa e desejam a ela ser incorporada.
Façamos um exercício mental. Qual seria o papel da mídia brasileira caso fossem instaladas bases militares com alta capacidade de destruições em território peruano ou colombiano, com vistas a se resguardar de futuro ataque venezuelano? E se a Rússia instalasse bases militares na América central ou mesmo no México? Seria uma ação hostil?
Saddam Hussein foi enforcado e decapitado por ordem do ganhador do nobel da paz, Barack Obama. Não foram encontradas armas de destruição em massa e o Iraque passou a ser um território pujante … de miséria. Basta olhar para um globo terrestre. Veja onde está a Rússia e a Ucrânia, e onde estão os EUA. Da mesma forma, onde está a Líbia no Globo? E foi massacrada pelos EUA.
A atual ordem encabeçada pelos EUA não mais se sustenta, posto que totalmente baseada na exploração humana e na destruição de territórios inteiros, para que poucos usufruam de benesses duvidosas. A humanidade está aos poucos acordando e passando a enxergar todo o mal que este neo-neocolonialismo trouxe sobretudo à classe trabalhadora.
A nova ordem que se avizinha ainda terá seus contornos mais bem delineados, sendo que, no momento, pode-se dizer que China e Rússia serão os responsáveis por, ao lado da Índia, e quiçá do Brasil, traçar e impor limites ao império do mal que começa a se desintegrar.