Coletivo que está reinventando a cena em Jufas faz live, neste sábado, direto da Necessaire
por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com
Fotos do Gutah na Danke
O coletivo Makoomba fez uma verdadeira revolução, em Jufas, ao colocar em evidência o seu público jovem, com auto estima lá em cima e muita confiança. Quem esteve na Praça Antônio Carlos, no Makoombloco, no pré-carnaval da cidade, sabe da potência jovem e negra do coletivo, que celebra este momento em live, neste sábado, dia 24, às 19h, com transmissão direto do clubinho que amamos Necessaire.
Bati um papo, por e-mail, com os 3 DJs à frente do projeto, Igor (ocrioulo), Claudio (crraudio) e Amanda (acósmica), sobre o que podemos esperar da live, que terá iluminação do Tarja Luz e sets especiais. Dessa vez, sem dançarinos, para minimizar os riscos. A live foi custeada com recursos do edital “Na Nuvem”, da Funalfa.
A Makoomba fala sobre aceitação e ocupação de espaços, que precisam ser seguros para essa juventude se divertir. Bem, já entraram para o calendário oficial da cidade. Não foi a toa, é o que está tendo de mais legal por aqui. Acompanhe o nosso bate-papo.
Moreira – Vocês estão fazendo uma revolução na cidade, ocupando espaços públicos, fazendo o carnaval… Nunca imaginei de ver o Muzik black… Acho que é um fenômeno parecido com a Batekoo, que começou em Salvador e conquistou o Brasil… Vocês vêem essa semelhança? Quais espaços ainda faltam conquistar em Juiz de Fora? O que mudou na cidade com toda a militância festiva da Makoomba?
Igor (ocrioulo): – Acredito que a semelhança esteja em sermos movimentos negro periférico LGBTQIA+ que pauta pela liberdade e diversão da nossa juventude. Ainda faltam bastante espaços a serem ocupados, estamos só no começo, rs, o que mudou de lá pra cá, acredito, é a auto estima e a confiança do público que nos cerca, por meio da arte e da comunidade que se formou a partir dos nossos eventos, garantiu a essa juventude a segurança de ser e existir.
Claudio (crraudio): – É engraçado, porque, desde que eu entrei no Café Muzik, em 2012, para trabalhar como designer, eu fui fazendo pequenas inserções de eventos que “pareciam comigo” rs. Rolaram algumas oportunidades de fazer algumas produções, e uma delas foi a Makoomba 4 anos, depois de já estar trabalhando lá. Foi num momento quando eu estava de DJ residente da festa Nêga, em SP. Ao me deparar com a cena que estava efervescente no Brasil todo, serviu de estalo para pensar localmente em Juiz de Fora como parte desse movimento de aceitação e ocupação de espaços até então hostis para nós. Dentro de Juiz de Fora, uma coisa que ainda é um dos nossos sonhos é conseguir manter uma ação regular dentro dos bairros, onde serviriam de pontos de criação artística dentro da cultura funk! Ainda vamos conseguir desenvolver isso… O ocrioulo falou uma parada muito importante pro que é a Makoomba hoje em dia, a partir de muitas ações estamos “conquistando” um público que tem feito parte da nossa trajetória de uma forma incrível. Em todos os nossos eventos, é muito gratificante ver as pessoas se divertindo, e depois entrando em contato e falando feedbacks sobre como isso é significativo na vida delas. Eu fico sempre extasiado com esse tipo de carinho. Dá uma sensação não de dever cumprido, mas de que estamos no caminho sabe?!
Moreira – De coletivo, vocês viraram uma espécie de agência de cultura black? Porque muitos projetos parecem sair de dentro dessa raiz, como carreiras de artistas, como a Dona Chapa…
Igor (ocrioulo): – Sim! estamos nos desenvolvendo e estruturando para gerir e promover cultura. Seja assessorando e garantindo que nossos artistas sejam ouvidos e conhecidos, ou promovendo ações e eventos culturais, a fim de reafirmar e garantir o espaço para que nossa juventude tenha seu ambiente seguro para se divertir, trocar e criar nossa comunidade engajada. Pouco a pouco, mudam a realidade da cidade.
Cláudio (crraudio): Nos últimos anos, a Makoomba vem entendendo como funciona o mercado cultural local, parte disso é uma vontade de fazer com que outros artistas negres possam ter oportunidades de trabalhar com cultura. Quando falamos de cultura, não estamos falando de cultura “branca europeia”, mas sim do que nos cerca diariamente, do funk, do hip-hop, da dança, da fotografia. Enfim, a gente vem ressignificando o que é “Makoomba” que nasceu como uma festa focada em ritmos diaspóricos com presença de percussão, pra se transformar em trabalho. Então, Makoomba é trabalho, é o nosso trabalho com arte, com música e com outros artistas negres. Dentro desse processo, entender de carreiras, narrativas dos artistas é um ponto importantíssimo. Somos artistas muito diferentes, e cada um com uma linguagem incrível. Dar “vasão” as criações de todes é uma meta, é dificil, porque né, sabemos como é gerida a cultura atualmente no Brasil e como as coisas são difíceis, mas seguimos tentando organizar parcerias e entrando em editais para conseguir viabilizar as nossas produções. Nos últimos anos, conseguimos ter eventos dentro do calendário oficial da cidade, como a nossa Bloco de Carnaval, Exposição Artística, a nossa Residência artística, além das nossas festas semanais.
Moreira – Para os DJs, como vocês conectam os ritmos? Funk a kuduro, funk a afrohouse… Qual é a história sendo contada?
Igor (ocrioulo): – Desde o começo procuramos trazer com nossa discotecagem o conceito de que a música negra é um paralelo que absorve todo o mundo e toda diáspora. Assim, sempre misturamos ritmos afro de todos os subúrbios do planeta, misturando funk, reggaeton, kuduro, trap, afrohouse e por aí vai.
Moreira – O ballroom está chegando ao Brasil? Fui em uma batalha de vogue no Museu Ferroviário que foi um dos acontecimentos mais libertários da minha vida….
Cláudio (crraudio): – O Ballroom já chegô hahaha. Eu não fui nessa batalha, na verdade eu fui, mas precisei correr para outro evento que era na mesma hora. Eu fico muito feliz de estar conhecendo um pouquinho da cultura Ballroom, e de ver como ela está crescendo aqui em Juiz de Fora e na região. Eu já participei de algumas balls como DJ e também produzindo junto da House of Raabe dentro da programação da Makoomba. É um espaço incrível pro público poder entender sobre a valorização dos corpos periféricos, e também para a população LGTQI+ nesse contexto. Uma das paradas mais incríveis, foi a mini-ball que a House of Raabe fez dentro do Makoombloco 2020, foi maravilhoso ver a reação do público na Praça Antônio Carlos (PAC).
Moreira – Como vai ser a live? De onde vocês vão transmitir? Vai ter música, dança, fechação? Grandes poderes, grandes responsabilidades…
Amanda (acósmica): – A live vai ser em formato party no zoom e transmitida também pelo nosso canal no Youtube. Vamos ter uma iluminação especial do nosso parceiro Tarja Luz e sets especiais dos três djs. Infelizmente, não vamos contar com dançarinos e cantores, para minimizar os riscos. Mas a intenção é relembrar o último Makoombloco e levar aquela alegria toda que vivemos juntos na PAC para a casa dos makoombeiros.
Moreira – Uma última pergunta… Este final de semana, vai rolar o Planet Afropunk, do Afropunk… Vai até domingo, com Afrocidade, Duckwrth, Common e muito mais… Conhecem o site? Tem tudo a ver com vcs…
Amanda (acósmica): – Conhecemos sim! Nossa expectativa para esse ano era pelo do primeiro Afropunk no Brasil, em Salvador. Achamos muito importante a valorização de artistas locais no line. Pensamos até na possibilidade de ir, mas né, a pandemia veio… Com certeza, vamos assistir.
Abaixa que é tiro!??
O Afropunk é um dos maiores sites e organizações negras do mundo, sou muito fã e tive a honra de emplacar o Flávio Renegado por lá. Este ano, o festival deles, Planet Afropunk, que é tudo, assim como tudo que fazem, completa 15 anos e rola de hoje a domingo, na web, com atrações como os brasileiros do Afrocidade, do ÀTTØØXXÁ e Larissa Luz, Ari Lennox, Bongeziwe Mabandla, Duckwrth, Common, Bootsy Collins, Moses Sumney e Jonah Mutono. Inscrições e tudo o mais aqui. Line-up completo aqui.
Por aqui no Brasil, o afrofuturismo chegou à Netflix na série “Afronta!“, de Juliana Vicente , com 25 episódios bem curtos e delícia de ver, com nomes como Rincon Sapiência, Anelis Assumpção, Liniker, Mahal Pita, do ÀTTØØXXÁ, e Karol Conka colocando foco nas narrativas negras. Tão babado que foi recomendado pela Ava Duvernay, de “Selma”, “A 13ª Emenda” e “Olhos que condenam”.
A segunda edição do Rio Montreux Jazz Festival rola entre os dias 23 e 25 com todo o conteúdo transmitido, gratuitamente, pela internet. No line up, Macy Gray, João Donato, A cor do Som, Marcos Valle e Roberto Menescal, hoje, sexta, 23 , Wagner Tiso, Robertinho Silva e Victor Biglione, Hamilton de Holanda, Stanley Jordan, Letieres Leite e Orquestra Rumpilezz, no sábado, Toquinho e Yamandu Costa, Milton Nascimento coral Sing Harlem,Maria Gadu e Samuel Rosa, no domingo. A programação completa está aqui. No Brasil, as transmissões serão direto do Hotel Fairmont Copacabana. Milton transmite de casa. O cartaz é assinado por Vik Muniz, e os instrumentos foram desenvolvidos por crianças da Escola do Vidigal.
A Orquestra Ouro Preto recebe o pianista Cristian Budu, como solista convidado, amanhã, 24 de outubro, às 20h30, para celebrar em grande estilo os 250 anos de nascimento do compositor Beethoven. O concerto será transmitido ao vivo pelo YouTube, direto do Grande Teatro do Sesc Palladium, em BH.
O repertório traz duas peças em um concerto de aproximadamente 60 minutos: a célebre “Sonata ao luar” para Piano Solo e o “Concerto nº 5 para Piano e Orquestra”, popularmente conhecido como “Imperador”.
Vai ter Titãs, Laura Jane Grace, Ego Kill Talent, Tuyo, Romero Ferro, Potyguara Bardo, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Plutão Já Foi Planeta e muito mais rock no Festival Tenho Mais Discos Que Amigos!, a partir das 15h.
Diante de tantos acontecimentos, o Circo Voador no Ar, que não deita pra nada, exibe shows de Anelis Assumpção, na sexta, e Jards Macalé, no sábado. Classe.
E as lives? Hoje, sexta, tem Pitty discotecando e shows de Os Barões da Pisadinha e Xand Avião, às 21h, e KLB, às 21h30. No sábado, tem Fundo de Quintal, às 18h30, Chico César e Marília Mendonça (que se desculpou do vacilo,parabéns), ambos 20h.
No domingo, olha que classe, tem Bixiga 70 com participação de Tulipa Ruiz, às 17h30, no Sampa Jazz Fest, com transmissão ao vivo aqui.
No dia 26, a cantora e compositora Luiza Brina se apresenta no Palco Virtual com o show online do álbum “Tenho Saudade Mas Já Passou”, às 20h. Os ingressos, gratuitos, já estão disponíveis. Depois desse disco solo, ela lançou o projeto “Deriva”, com participações de nomes como Teago Oliveira, Josyara, Arthur Nogueira, Júlia Branco e Chico Bernardes nos vocais. Informei.
Termina na segunda-feira o prazo inscrições no Prêmio Janelas Abertas, da Pró-reitoria de Cultura (Procult) da UFJF. Serão 150 propostas levando R$ 105 mil em recursos. Inscrições pelo site. A Procult também abriu inscrições para curso com o premiado fotógrafo Ale Ruaro, gratuito e on-line, no dia 3 de novembro, das 19h às 22h.