Saginata volta ao cativeiro para enterrar primeiro disco

Banda emo de Juiz de Fora lança sua primeira session e anuncia próximo álbum de hardcore bem melódico

 

Saginata, banda crua e complexa, banda “que nem se tinha banda antigamente”, convívio, brigas, ensaios, casamento desalinhado em forma de música. Aquelas maravilhas que encontramos mergulhando no caos e voltando a crosta. Nessa sesssion é perceptível a evolução deles na pandemia, dá pra ver que tocam juntos, que são amigos e inimigos, depende da hora. Orgânico, que falam hoje em dia. Banda que inspirou bastante a volta do Polara no sentido da gente ver e pensar: ainda existe isso.

prefácio por Carlos Dias

Saginata “Mal Resolvido”

Mal Resolvido, álbum de estreia da Saginata, foi gravado durante o chuvoso carnaval de 2020 dentro de um depósito num sítio nos arredores de Juiz de Fora, uma semana antes da pandemia chegar ao Brasil. Produzido por André Medeiros (ex-membro da Top Surprise), o disco tem oito faixas. Foi o primeiro trabalho em português, com letras e vozes de todos os integrantes. A pintura da capa é de Guilherme Melich.

Mais de um ano pandêmico depois, com muitas vacinas negadas, falcatruas e demais peripécias militares, a banda volta ao mesmo lugar de gravação do álbum para reproduzir as músicas ao vivo. A Session Mal Resolvido é um retorno às raízes do primeiro álbum e à nostalgia de tempos melhores, trazendo também uma roupagem mais agressiva e melancólica ao som, fruto da vivência em tempos sombrios.

O que aconteceu na banda desde o lançamento de Mal Resolvido até essa session?

RAPHAEL: Tivemos a saída do guitarrista Thiago Mangia, que voltou para a sua terra de Cruzília e continua com suas sessões de acupuntura. Com a saída dele, o espaço vago foi preenchido por Hugo Goretti, uma entidade folclórica, virtuosa e cabeluda.

No final de 2020 voltamos para o estúdio para começar a trampar em novas composições para um futuro segundo álbum. Pausamos essas composições para estruturar e realizar a session. Vamos retomar essas novas músicas agora.

HUGO: Eu fiquei sabendo que a gravação do disco ia acontecer no carnaval de 2019. Até cogitei em ir, mas acabei desistindo. Nem imaginava, naquela época, que iria fazer parte de algo da banda. Está sendo maneiro porque estou fazendo parte da história do disco de alguma forma e estou presente no processo de composição de novas músicas. Essa dinâmica está sendo muito boa.

PABLO: Tô com um problema de memória, pra mim a melhor parte foi convencer vocês a gravar o REM. O Hugo foi um achado que só não é perfeito porque ele gosta muito de Stoner.

CHICO: Trocamos o centro pela cidade alta e isso impactou no som, ficou mais lisérgico. Com a entrada do Hugo a gente se aproximou mais dos meios de produção, porque fez dupla com o Vegano, equilibrando a maconhada e dá pra gravar umas demos. O Pablo está mais regente de backing vocals e daqui uns anos teremos de fato backing vocals próximos das mil referências que ele mostra todos os dias.

Gravando disco no cativeiro

RAPHAEL:  Antes das novas composições, tivemos a ideia de lançarmos um álbum de covers de bandas brasileiras da cena. Deu bem errado. Só conseguimos lançar o cover da música Charminho, do Polara. Até começamos a tirar uma música ótima da banda Aura, de Divinópolis, mas a procrastinação venceu. Logo antes da session, lançamos um cover de Shiny Happy People, do R.E.M. Mandamos o cover pra banda, mas eles nos ignoraram. 

Filipe Furtado

Hugo na paixão de Cristo

Foto vendida

Alguns de vocês se referem a esse registro como o enterro de Mal Resolvido, por que?

RAPHAEL: Eu nunca falei isso.

HUGO: Eu entendi esse termo “enterro” como uma conclusão de ciclo. Não deu pra banda fazer muita coisa pra divulgar o álbum e tem material novo pronto. Ouvi isso do Pablo.

PABLO: Enterro é pra acabar logo com isso, não aguento ensaiar e errar as mesmas coisas. Tô ansioso com as  novas, acho que as músicas vão ser menos desesperadas e mais fáceis de entender.

CHICO: Acho que Mal Resolvido é tipo o Blade Runner. Daqui dez anos vai tá todo mundo falando que ouviu até o fim.

Entre o primeiro single e o EP vocês chegaram a se apresentar, certo?  Inclusive corre umas fofocas sobre o show de BH…

RAPHAEL: Sim, foi bem bacana. Quase perdi o ônibus pra BH pq tínhamos nos apresentado em Juiz de Fora um dia antes e estava podre de ressaca. E o Chico malabarista de prato deixou o crash cair no pé logo depois do show em JF e foi com o dedão podre pra BH. Congratulações por ter sobrevivido e ainda ter conseguido tocar.

Essa foi uma mini turnê que fizemos em conjunto com o Polara. Foram dois shows, em BH e JF. Formamos uma amizade sincera que promete muito uma reaproximação depois da pandemia!

HUGO: Eu ouvi histórias só… sei de quase nada.

PABLO: Foi uma aventura esse show na capital, fizemos amigos e descobrimos que BH é pior que Juiz de Fora.

CHICO: Tinha um casal olhando o celular durante o show.

Kill Me Money, 2019

Snow Candy, 2019

Filipe Furtado

Por que após o primeiro single vocês adotaram o portugues?

RAPHAEL: Porque estamos no Brasil.

HUGO: Sei não.

PABLO: Porque sim.

CHICO: A primeira vez que tocamos, abrimos com um sampler duma fala do bolsonaro e uns punk acharam que a banda era reaça. 

Existe algum segredo para alcançar 8 ouvintes no spotify?

RAPHAEL: Sim, muito ensaio e pouca divulgação.

HUGO: Só tenta.

PABLO: Se nossa banda fosse uma empresa e a gente ficasse mendigando na internet acho que chegaríamos aos 20 ouvintes.

CHICO: Falta de impulsionamento. 

Qual mensagem a Saginata quer passar?

RAPHAEL: Acho que os assuntos tratados por cada membro em suas letras divergem bastante. Eu por exemplo gosto de falar sobre a condição humana nesse mundo, nossas políticas e nossos eternos problemas para sair desse buraco filosófico que nos metemos há alguns milênios. Mas acredito que, de maneira geral, a Saginata discorre sobre as diversas situações que nos deparamos todos os dias simplesmente pelo fato de sermos quem somos.

HUGO: É meu primeiro dia na firma.

PABLO: É o que o Banguelo disse.

CHICO: Acho que o Raphael tem essa onda mais filosófica com DOUTORADO, o Pablo tem um vitimismo FATAL e DESGRAÇADO e o Hugo PROMETE um FOLCLORE que na hora que botar pra fora vai dar até polícia. Eu curto MANDAR RECADINHO. Com isso podemos dizer que a mensagem final é de BAIXA AUTO-ESTIMA.

Discorram sobre a proposta estética do conjunto

RAPHAEL: Em estética sonora nossas principais influências são o post-hardcore e o emo dos anos 90, mas também carregamos influência do midwest e mathrock, que estarão mais presentes em próximas músicas. Eu sou muito parcimonioso com o uso de power chords nas composições porque pra soar genérico é um pulo. Por isso gosto de explorar acordes mais tortos e dissonantes. Também gostamos de músicas de altos e baixos, com partes pesadas e outras calmas, sem muita teoria. Visualmente eu sinceramente não saberia opinar. Nem sei se temos. Só sei que com relação aos videoclipes (amo todos!) eu prefiro animações e uma narrativa mais fílmica. Talvez lancemos algo assim se a banda me ouvir mais! hahaha.

HUGO: Desde que ouvi a banda pela 1a vez achei o som visceral e bem verdadeiro. Genuíno. Curto som assim.

PABLO: Proto Drama e Pós susto?

CHICO:  Gosto dessa onda pseudo intelectual. Dez anos atrás o pessoal acusava tudo de pseudo e eu morria de medo de cair na malha fina. Hoje eu tenho orgulho de participar desse projeto poser.

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