Sexta Sei: O Caderninho de Belezas Mínimas de Lu Lessa Ventarola

Em meio à pandemia do coronavírus e acompanhando o desgoverno no Brasil, ela enxergou as imensas esperanças das selvagenzinhas e começou a escrever um livro com flores

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Até este cabra da peste arretado  Todo mundo pode Flor 

–  Viva São João Menino

Em tempos de ditadura de whatsapp, minha amiga de infância Lu Lessa Ventarola não só manda e-mails, essas quase-cartas, começando com “Meu muito querido amigo”, como assina, ao final, com data e local, diretamente de Coimbra, Portugal. Uma distinção. Advogada por formação, ela teve a vida transformada pela palavra, pela escrita e pelos cadernos, como o “Caderninho de Belezas Mínimas”, que ela começou a escrever e plantar, durante a quarentena, com “todos os horrores da pandemia cravando estacas doloridas no mundo”. 

A carta é tão bonita que eu não sei o que estou fazendo aqui, tentando contar essa história. Todos os dias acompanho os efeitos devastadores da falta de governo, caráter, vergonha, compaixão e coração no Brasil. O que fazer para deter esse mal a galope? Enquanto isso, por aqui, no jardim de casa, a primavera ia dizendo esperança. Umas florezinhas selvagens nascendo no meio das pedras (como? Como meodeos?). Todo dia, essa insistente beleza, nascida no -apesar-  da dureza me dizia, em vozes de sussurros, que era preciso desviar os olhos da maldade, da feiura do mal”, conta.

Sempre ardeu. Sempre. Queria te dizer isso.
Sempre ardeu. Sempre
Você me fez grande
Vou dizer o que todo mundo já sabe bem- Tem dia que é PORTO Tem dia que é PARTO
Éramos tão amigos... Já não brincamos [perguntas mínimas]
Éramos tão amigos... Já não brincamos [perguntas mínimas]
O espírito é vasto
Obrigada por me escutar
Porque o caos todo dia quer voltar
Quem não precisa de proteção. Chame de mandinga ou chame de oração - [Caderninho das belezas mínimas]
Se não for por mim pelo o que seria?

“Peguei um raminho dessas flores e, sem nem muito pensar, quase sendo levada por elas mesmo, o coloquei em um caderno de papel artesanal que já tinha. Peguei uma agulha com uma linha vermelha que estava por ali de bobeira e bordei um jarrinho de flores. Sabe entusiasmo? Fiquei assim, dando passagem a ventos de alívio”, como escreve lindo, não?

“As selvagenzinhas são imensas esperanças”

“E este foi o início do caderninho. Combater o mal com a beleza, reconhecer a enorme força da suavidade. Então significa o contrário do que para algumas pessoas possa parecer: escolher a via da delicadeza, da gentileza, não é alienação, não é tapar os olhos para tudo de ruim que tem acontecido no mundo. É mesmo ativar os olhos, torná-los competentes para reconhecer tudo o que é contra o fluxo da vida”, explica. 

“A intenção do caderno então é essa: desmascarar a farsa de que o amor é utopia de lunáticos e nos armar para o combate. Um bom combate. Beijo, meu amigo; nos vimos crescer e isso nos liga de forma indelével – e está aí mais uma prova de que o mundo é cheio também de alegrias e encantos. E que nos cabe a escolha”, encerra a minha cartinha. Caiu uma lágrima.

Mais sobre a Lu <3

“Meu trabalho pela via da arte não foi uma decisão tomada, foi mais um acontecer devagarinho. As palavras, essas sim sempre estiveram por perto, você bem sabe, desde criança gosto de conviver com elas, assim como você. E elas são danadas e se embrenham por todos os lugares e nos levam junto,você também bem sabe disso”, conta, por e-mail, sobre a trajetória, que começou com a graduação em Direito, mas seguiu rumo inesperado quando ela foi trabalhar no Canal Futura, com mobilização comunitária.

“Trabalhei alguns bons anos (7 anos!) com educação e escrita. A aprendizagem da língua chinesa, iniciada em 2011, abriu uma chave de pensamento filosófico e uniu a palavra à imagem e ao gesto. Voltei com isso aos tempos de bordado aprendidos com minha avó. Em 2013, juntei tudo: educação, palavra, arte e gente e fundei o Movimento Armado de Poesia – MAP“, conta. Com o MAP, faz oficinas de poesia, escrita e arte têxtil em escolas públicas e para audiências variadas.

Nessa estrada do poema, ela fez, no CCBB-RIO, com  curadoria de Hélio Eichbauer,  a exposição “DestinoCasa”, que teve mais de 7 mil visitantes. Em 2018, ela foi Portugal estudar e entender, à luz do pensamento teórico, sua prática poética-social e artística por meio de um mestrado na Escola das Artes da Católica do Porto. “A minha dissertação trata sobre livros-objeto e as relações entrelaçadas entre matéria e ideia na escrita da memória. Que venha 2021. 🙂 Estamos em combate.

Abaixa que é tiro!??

M.e.i.a. é o codinome artístico do boa praça Brunno Esteves, 31 anos. O apelido veio do sobrenome, Maia, e do hábito de jogar futebol com meião até o joelho. O artista até criou um fantoche de si mesmo para o projeto, e eu só consigo lembrar do boneco que ajuda o psicólogo Dr Salomón em “A Casa da Flores”. Nesta sexta, ele lança, aqui e no YouTube, o clipe de seu primeiro single, “Ilusões”.

O som que faço sempre bebeu do rock clássico, com uma roupagem nova e elementos mais atuais. Escrevi ‘Ilusões’ no meio de muita melancolia”, conta o artista, que assina, ele mesmo, o clipe, visto que trabalha com produção e edição audiovisual. O vídeo foi produzido em casa, com M.e.i.a. interpretando vários personagens, mostrando ser multifacetado. 

Até o final do ano, ele deve lançar mais quatro músicas, sempre transformando a melancolia em algo lúdico e animado. Promete.

A primeira edição do Coala.VRTL™️ acontece neste sábado, a partir das 14h, em um paraíso natural (ainda mantido em sigilo)  e transmitido no canal do festival no YouTube. O line up é só pedrada,  com Gilberto Gil e Gilsons (captou?), Novos Baianos, Nego Bala, a maravilhosa Mc Tha, que eu amo, com participação de Rico Dalasam e ainda Mariana Aydar e Mestrinho. Chique demais. Fiquem em casa, gente.

A Brutus, festa safadeenha de Oscar Bueno, LGBTQIA+, com pegada leather e fetichista, rola, pela segunda vez, dia 12, das 23h as 5h, no Zoom. O som é com Bueno, que é mestre, Alexandre Bispo e Fernando Britto. Os visuais são de Luz de Pandora.

Te amo, desgraça! O baiano Baco Exu do Blues faz show no Circo Voador no Ar, sábado, 22h. Na sexta, tem Mart’nália.  Prepara o coração que, na próxima semana, é a Cássia Eller ♥ . Tem mais live sim, claro, a única forma segura de se divertir este dias, cês sabem, né? Sexta em Felipe Cordeiro, 18h. No sábado, é a vez o encontro de Elza Soares, Seu Jorge e Agnes, às 20h, no Multishow e no Youtube. Domingo tem Orquestra Ouro Preto e Fernanda Takai e Thaíde, ambos às 18h, e Odair José, às 19h. Fiquem em casa, é um gesto de amor e civilidade.

Esse clipe de “Meu coração é brega”, que marca a volta de Fafá de Belém ao mercado fonográfico, em 2016, vai entrar pra história queer por mostrar a fauna e seu mais exótico habitat, o Buraco da Lacraia, essa instituição gay brasileira que fecha as portas, sábado, depois de 17 anos de lacração e tombamento na Lapa. 

Neste sábado, 12, a casa vai abrir pela última vez, apenas para convidados, com  videokê liberado. Claro que vai ter live, 23h59. Vai deixar saudades. Quem já foi nunca se esquecerá do open bar servido por garçons só de avental, bumbum à mostra. É o fim de uma era da representação gay na noite, depois do fechamento da Le Boy. Que venham os novos tempos e hábitos, mas honremos esse legado. Muitos chegaram antes de nós.

Os residentes da Je Treme Mon Amour, Madruga (ui!) e DJ Tide 

Essa festa que eu nunca fui e já amo tanto, a Je Treme Mon Amour, completa seis anos de sofrência, fuleragem e gréa, sábado, 12, às 22h, com um dream team do brega. Os residentes DJs Tide e Madruga recebem Omulu (amo tanto), Becca Incendiária e Rodrigo Bento (SP) e Jambruna (BH). E ainda tem shows dos paraenses Juca Culatra e Thais Badu. Tudo de graça, que é mais gostoso. A minha paixão pela festa começou com esta mixtape aqui, que me salvou quando eu tava tlist. O Tide eu sou apaixonado faz tempo, saca as produções dele aqui, como edits de “Eu também quero beijar”, “Deixa Acontecer” e “Mestiço”

Playlist com novidades musicais dessa semana especial, com novos discos de BK’, Hot e Oreia e Kalli 😉

Sexta Sei, por Fabiano Moreira