Gang Bang com Daniel Juca

por Chico, Dino e Josie
Ilustrações por Daniel Juca

Daniel Juca é cartunista, dj e, além de tudo, carioca. A convite do Baixo Centro, o último representante do movimento rude boy (no sentido rude mesmo) topou um swing com nossa equipe.

Yhas La Porta

Francisco: Você é carioca de qual bairro?
Daniel Juca: Porra, já começou essa merda de entrevista?
Francisco: Já.
Daniel Juca: To sentindo cheiro do pouco que restou do meu filme sendo queimado, mas ninguém deve ler essa porra mermo, né?
Francisco: Como é o seu filme?
Daniel Juca: Pilha Errada Sem Limites, filme queimado porém não cancelado (ainda).
Francisco: É verdade que o carioca sabe aproveitar a vida?
Daniel Juca: Não sei, deve falar isso por causa da praia, vocês sabem como é.

Dino: Como não te conheço e estou aqui como Pilatos está na bíblia, quem é você? 
Daniel Juca: Pilatos já lavava as mãos antes de ser modinha.

Meu nome é Daniel Garcia, recebi o apelido de Juca na minha 2ª oitava série, quando mudei de colégio. Acabou ficando. Causa um pouco de confusão porque é um apelido de um nome que não é o meu. Geralmente esperam que meu nome seja Joaquim ou João Carlos.

Sou formado em jornalismo e design gráfico. Já trabalhei no departamento de arte de uma editora e num jornal. Trabalho atualmente como ilustrador e designer freelancer, cartunista não-remunerado e dj. Em 2011 lancei um documentário sobre desenhistas de humor brasileiros chamado Malditos Cartunistas. Dirigi e produzi junto com meu amigo Daniel Paiva. Passou em alguns festivais de cinema como um em Juiz de Fora (MG), onde tive o desprazer de conhecer vocês.

Francisco: Você acha que a formação acadêmica fez diferença?
Daniel Juca: Pra minha mãe faz. Ela fica bolada de eu ser dj, e não ter um emprego normal.

Trabalhar Cansa

Francisco: Como dj, como é sua rotina de trabalho?
Daniel Juca: Como dj e como ilustrador/designer é igual, acordo meio dia, fico enrolando e trabalhando o dia todo até dormir.

Francisco: Você trabalha em casa?
Daniel Juca: Sim. Trabalho, sou meu próprio chefe, sou bom chefe e péssimo funcionário
Dino: Um empreendedor?
Daniel Juca: Empreender dá muito trabalho.

Dino: Vou fazer uma pergunta que tá mais chupada que chupeta de criança. A interferência  das mídias sociais no seu trabalho, favorece ou atrapalha?

Daniel Juca: Ah, acho que facilita para divulgar suas paradas sem precisar ter que fazer fanzine, né?

Francisco: Você tem um passado fanzineiro?
Daniel Juca: Fiz fanzine quando era um jovem do hardcore, em 96, se chamava Zine HC pra mim pra você. Em 98 fiz um chamado Motivo de Chacota. Em 2004 junto com outro fanzineiro dos anos 90, Matias Maxx, fizemos o zine/revista Tarja Preta.

Matias, Marcelo e Daniel em momento de descontração

Dino: Você que está por dentro dos malditos do jornalismo, concorda que hoje em dia é uma merda? Falta um Millôr, Barão de Itararé, essa patota que falava merda mas era inteligente?

Daniel Juca: Tem gente boa mas geralmente não trabalha em jornal, rs.
Josi: Porque o carioca nunca escuta os outros?
Daniel Juca: A gente escuta, mas ignora.

Francisco: você tinha banda?
Daniel Juca: Eu tive uma banda de 98 a 2000 chamada Melissa, ska surfcore com integrantes do Noção de Nada, Wacky Kids, Poindexter e Nipshot. Eu era o amigo da galera que não sabia tocar nada e foi pro vocal. Muito  bom reouvir depois de 20 anos e ver que não tem nenhuma letra cuzona como era de praxe nos 90.  A gente lançou essa demo em 99 e na mesma gravação tinha mais pra uma segunda demo q nunca foi lançada. vamo lançar como um ep nas plataformas.

Zé Lobato

Francisco: Como era o agito? 
Daniel Juca: A gente tocou muito no Garage, Beco da Bohemia, Kachanga, Casarão Amarelo e outros muquifos que não duraram muito.

Francisco: Onde vc estudou?
Daniel Juca: Fiz jornalismo na Facha e design na finada UniverCidade. Se for preso vou ter direito até a travesseiro.

Josi: Já tem dez anos que você tá pra lançar seu livro?
Daniel Juca: Não, cara. Eu tô há mais de 10 anos pra terminar meu livro. Mas agora to fazendo outro, autobiográfico, sobre procrastinar esse outro livro há mais de 10 anos, vai se chamar “eu odeio quadrinhos”.

Francisco: Existe cartunista que não faz uso da autodepreciação?
Daniel Juca: Eu não faço, impressão sua.

Francisco: Fale do processo do doc Malditos Cartunistas, como foram as abordagens, vocês faziam perguntas espertinhas ou deixavam mais aberto pro cara fluir?

Daniel Juca: No malditos, assim como na minha vida, a técnica usada era fazer listas. Listas de entrevistados, listas de perguntas… Fizemos boa parte as mesmas para todos, com algumas mais específicas para cada um.

Por fazermos parte da Tarja Preta, já conhecíamos alguns e foi a desculpa para conhecer os outros, incluindo os mais famosos. Na época no youtube ainda não tinha muita coisa de cartunistas,  muita gente nem sabia como era a cara e grande maioria não curtia muito dar entrevista, mas como éramos cartunistas também, uma equipe só de 2 malucos, clima bem informal, rolou de boa. A gente tinha a intenção de fazer o making of em quadrinhos do filme. metalinguagem, lek, mas ficou pro aniversário de 10 anos, temos até o ano que vem.

Dino: Você fez a chata pergunta que o Jaguar tanto respondeu sobre como começou o Pasquim? Ele que dizia estar cansado de responder isso.
Daniel Juca: O Jaguar e o Ziraldo realmente não falaram muito a respeito. Nossa saída foi pegar a galera que entrou depois para falar sobre,  tipo o Nani e o Reinaldo, Leonardo.

Francisco: Por que o Andrício não entrou no corte?
Daniel Juca: Só conhecemos depois, acho, pro filme a gente entrevistou mais de 30, no filme entrou 28 acho. Uma galera não entrou para entrevista ficou tecnicamente ruim. Pior do que as que entraram. Com os extras fizemos uma série pro Canal Brasil. Para completar entrevistamos mais umas pessoas, tipo Daniel Lafayette, Cynthia B, Ciça, e Laerte de novo, já como crossdresser. 

Francisco: Foi na raça? 
Daniel Juca: Foi. Conseguimos uma merreca com a série só.

Dino: Tem o Millôr? (não viu o filme!)
Daniel Juca: Não. Millôr já tava bem velhinho na época. A gente encerra a parte dos créditos com o Jaguar falando sobre o Millôr, que ele é o melhor cartunista de todos os tempos mas que nunca conseguiríamos.

Francisco: Você acha que uma entrevista onde o entrevistador não domina o assunto pode render uma boa entrevista?
Daniel Juca: A gente tá falando de vários assuntos e vocês não dominam nenhum. Google e Wikipedia tão aí pra isso.

Josi: Você já teve tretas no reggae?
Daniel Juca: Rolou umas três do ano passado pra cá, faz parte.

Francisco: Se a gente pegar uns lance do Crumb, é pra cancelar, né?
Daniel Juca: Pô, acho que até algumas paradas dos anos 80 da Circo [Chiclete com Banana] poderiam pegar mal hoje em dia, não? Até Trapalhões não rolaria hoje em dia da forma que era.  Certas coisas passavam que hoje em dia não passa mais, tu acha que Raimundos faria sucesso se surgisse agora? Porra, caí por acaso num show deles ano passado e fiquei constrangido, rs.

Francisco: E a revista Manchete? as coberturas do carnaval, você acompanhava? erotismo…
Daniel Juca: As capas dos discos da Xuxa era ela em poses eróticas, né? pros pais comprarem.
Francisco: Sim, e aquele ensaio da Christiane Torloni, vibe francesa…
Daniel Juca: Tem nem mais Playboy, cara, tem instagram.

Josi: Qual sua escola no underground? Raimundos, hardcore melódico e o mau-humor carioca?
Daniel Juca: Porra, começaram falando que carioca sabe viver a vida, agora carioca é mau humorado.

Francisco: Qual sua visão sobre os mineiros?
Daniel Juca: Mineiro mermo ou juizdeforense? Mineiro que se acha carioca?
Francisco: Por que? acha que tem diferença?
Daniel Juca: Quando fui aí todas as minas do tinder tinham foto na praia

Francisco: Hoje em dia todo mundo tem foto na praia, por causa do instagram. Como é seu desempenho no tinder?
Daniel Juca: Tô com 40, né? já não entro no radar de uma parcela das mais jovens.
Josi: Você paga o tinder?
Daniel Juca: Pago não, e tu? Sou dj cara.

Festa e pescotapa

Josi: Você já chegou no horário em alguma gig?
Daniel Juca: Geralmente quando sou pontual, o bagulho atrasa e eu fico esperando. Evito.

Josi:
Como a Bangarang dura há tanto tempo com você?
Daniel Juca: Só sobrou eu, aí facilita. Meus sócios foram viver a vida, ninguém saiu oficialmente só não estão presentes mais.
Francisco: O que significa Bangarang?
Daniel Juca: Bagunça, confusão.
Francisco: Qual seu estilo favorito da música jamaicana?
Daniel Juca: Tenho um pouco de tudo. A Bangarang tem uma pegada mais oldies, 60 e 70. Tenho curtido no momento mais rubadub, 70 e 80. Early dancehall.

Francisco: E como vc virou dj?
Daniel Juca: Desde a época do hardcore já curtia ir atrás de sons que não conhecia e passar pra frente, mostrar pros amigos que não conheciam. Acho que isso deve ser o mínimo pra alguém querer ser dj, né? Quando a banda acabou, tava na primeira faculdade, comecei a abrir mais a mente pra outros sons. Na época do hardcore era só exclusivamente hardcore. Algumas bandas tipo Sublime, Nofx, Beastie Boys ajudaram a ir atrás de outras coisas. Nessa época, pré Tarja Preta, o Matias as vezes tocava de dj em umas festas. Vendo ele tocar percebi que se ele conseguia, eu também podia ser dj. Acabou que eu fui em frente e ele não, risos.

Na época tava curtindo uns rockabilly, swing jazz e uns sons vintage, acabei fazendo uma festa tocando nos intervalos do show da banda Canastra, aí não parei mais. Acho q isso já foi em 2005, por aí. Um amigo em comum com o Lívio da Bangarang, me colocou em contato para participar da 3ª edição e desde então fiz parte da parada. Foi festa por um tempo, depois sound system, hoje em dia eh festa novamente. Pegamos uma época muito boa de eventos de reggae aqui, já um tempinho pra cá ficou mais fraco de público. Talvez uma galera envelheceu e parou de ir, e os jovens só querem saber de trap. 

Francisco: O que define uma boa discotecagem? o astral ou a pesquisa?
Daniel Juca: Pesquisa e astral igual. Técnica é bom também. Praticar ajuda rs. Pratico menos que deveria por ter problema de foco e querer fazer várias coisas diferentes, mas um dia eu chego lá.
Francisco: O que seria a prática?
Daniel Juca: Treinar em casa, testar as ideias e conexões. Quando tu vê um dj fazendo umas sacanagens com certeza ele treinou bastante até chegar ali, tipo skate.

Josi: Você já andou de skate, né? Com o Drape e os caras, provavelmente não deu certo.
Daniel Juca: Com eles não, tentei quando era jovem. Não levo jeito, sou meio atrapalhado, sou contra esporte, se bem que skate não é esporte, é estilo de vida, né, Gramba? Estilo de vida de vagabundo.

Francisco: O que você acha do Bob Marley?
Daniel Juca: Rei do reggae, tu quer que eu fale mal do Bob, cuzão?
Francisco: Eu não, só tenho elogios.

Josi: Tirando a pandemia e o fim do mundo agora, como você enxerga o panorama para festas do tipo Bangarang e Avalanche aí no Rj?  Que não tem uma boa produção por você tá envolvido e não são comerciais?

Daniel Juca: Avalanche também não funcionou e você também ta envolvido, então não sei. Esses estilos mais undergrounds com público alvo mais nichado sempre foi e será mais difícil mesmo. Uma opção é tocar as paradas de sucesso das rádios, música pop pro público geral, mas não é minha onda. Fiz voto de pobreza há muito tempo atrás, não vou mudar agora. Agora vou cair dentro das lives. 

Josi: E como você leva aos 40 essa correria?
Daniel Juca: Tem que não gostar muito de dinheiro.

Dino: Tem clipe de dj igual tem clipe de música de banda?
Daniel Juca: Onde vocês conheceram esse tal de Dino, hein? Depende do dj. tem dj/produtor que toca vários instrumentos, tem dj q usa o toca-discos como instrumento, e tem dj que só aperta play. Assim como tem entrevistador que pesquisa o assunto e tem entrevistador que não. https://pt.wikipedia.org/wiki/Disc_jockey

Magnéticos 90

Em 2016 lançamos via Edições Ideal o livro “Magnéticos 90” escrito pelo Gabirel Thomaz das bandas Little Quail and the Mad Birds e Autoramas e transformado em quadrinhos por mim. Conta a historia da vida dele no rock independente e a época em que a mídia usada pelas bandas e artistas eram as demo-tapes, fitas cassetes. Deu uma trabalheira danada mas ficou maneiro.

Vagabundo remunerado

Josi: Como era trampar no jornal? Você já trabalhou na Cavideo também? Como era?

Daniel Juca: Foi legal, por um tempo. Sempre quis ter a experiência de trabalhar em redação de jornal. Trabalhava como infografista e aprendi muita coisa, mas é aquilo: trabalha muito, ganha pouco. 

Entre a faculdade de jornalismo e de design trabalhei lá [Cavideo]. Era bom, ter acesso a muito filme. Eu já assistia bastante coisa antes também, já conhecia bastante coisa. Mas tanto lá quanto o jornal não é algo que eu gostaria de fazer pro resto da vida, rs. Na verdade gostaria era de fazer nada, mas difícil ganhar dinheiro com isso, parece.

Jornal é foda que o fechamento é 22h20 então não tem caô, o que tinha que fazer tem que ta pronto antes disso, rola correções, correria. Plantão de fim de semana e escala de feriados. Sexta feira tem o chamado “pescoção”, tem que adiantar boa parte das edições de domingo e segunda, além da de sábado.

Muitas vezes saia 2h, 3h da manhã correndo pra tocar nas festas. Saí do jornal quando tava rolando bastante festa, pouco tempo depois deu uma diminuída e me fudi, mas faz parte.

Josi: Pescoção é uma gíria?
Daniel Juca: É mais um jargão jornalístico que carioca, que nem passaralho, quando rola demissão em massa.
Josi: E seu fechamento com o Matias? Como é essa relação?
Daniel Juca: Dizem que amigo se escolhe, mas Matias é a prova do contrário.
Josi: Você já tomou gota?
Daniel Juca: Só em Juiz de Fora através das más companhias, e de estômago vazio para dar mais onda.
Josi: E como foi a experiência?
Daniel Juca: Foi doideira, fiquei procurando a praia e não achei.
Josi: A praia é o Museu do Disco.
Daniel Juca: Todos os caminhos levam ao Museu do Disco. Saudades do museu. Melhor coisa de Juiz de Fora, além dos “amigos”, claro.
Josi: Juiz de Fora não é para amadores e nem profissionais em drogas como você.
Daniel Juca: Juiz de Fora não é pra ninguém. Nem pra darem aquela facada direito vocês são capazes, nem pra negar atendimento no hospital, lamentável.

Daniel Juca: Só sobrou você nessa porra de entrevista, né? já deve ter material suficiente pra uns 3 parágrafos.

Dino
: Sou graduado em incompetência.
Daniel Juca: Nem conheço o cara, mas acho que vocês deveriam demitir esse Dino aí, se bem que ele não deve ta sendo pago, né? Então tá de boa.
Dino: Isso é verdade.

Francisco: A entrevista continua, a semana toda.
Daniel Juca: Porra, isso não é entrevista, é uma maldição.
Dino: Se eu soubesse das coisas não teria por que perguntar.
Francisco: Somos um grupo terapêutico.

Dino: Aqui é pelo celular e só tem burro.
Daniel Juca: Vocês não são burros, ponto. Pensei em alguns, porém desisti. Pergunta mais coisa aí, brilha, Dino. Manda aquela contribuição foda agora.
Dino: Cansei de ser xingado.
Daniel Juca: Tu que se xingou, bro, eu só hostilizei, xingar foi tu mermo.

Josi: Qual foi a edição da Bangarang que você mais curtiu? Se você lembra de alguma…
Daniel Juca: Aí, Gramboy tá mostrando serviço, merece até ser promovido! Acho que magoei o dino. Desculpa, Dino! Volta! Você é importante!
Josi: Caralho, um carioca pedindo desculpa!!!!!!
Dino: Deu print, Josi?
Daniel Juca: Vou dizer que é montagem.

Disc Jockeys

Daniel Juca [respondendo sobre a Bangarang]: Teve vários bailes muito maneiros, lotados, temporadas boas no Varandas da Lapa, abrindo pro Skatalites no Circo na primeira vez deles no Rio. Wailers, Aggrolites…

Algumas edições na praça do Leão Etíope do Méier, com o finado Serraleiro, seletor de reggae clássico do Maranhão, que tá até no museu do reggae de lá. Fizemos muito baile bom na zona oeste, teve uma época muito boa da dobradinha Bangarang e Dub Ataque, que tem um integrante em comum, o Léo Flores.

Josi: Colei no Varandas num carnaval com Jurassic, foi foda! e teve o show do Dudley que foi brabo também, tomei um quadrado bonzão.

Daniel Juca: Skatalites teve mais 2 vezes e, a cada vez, veio com integrante original a menos, risos. O último só tinha um, acho,o resto era branco inglês. 

Josi: Pode crer, fomos nesse primeiro, nem te conhecia.
Daniel Juca: Foi o único com a Doreen, foi bom demais.

Francisco: Juca, lembra da comunidade do orkut “curto reggae e não fumo maconha” ?
Daniel Juca: Não lembro, eu já fumava naquela época.

Gostou? Não? Que pena…

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