Sexta Sei: A beleza negra e periférica na obra digital do baiano Uendel Nunes

Artista retrata o seu cotidiano pelas óticas da simplicidade e da beleza, mostrando uma periferia que produz muita cultura, ainda que marginalizada

por Fabiano Moreira
sextaseibaixocentro@gmail.com

Eu conheci o trabalho do baiano Uendel Nunes, 22 anos, no instagram da Fernana Abreu, quando ela replicou uma imagem linda, produzida por ele, em memória ao menino  João Pedro Mattos Pinto, 14 anos. Mas ela esqueceu de creditar o artista que, depois, graças ao algoritmo, brotou na minha timeline.

Estou sondando o publicitário e artista visual Del desde a criação da coluna, em julho, para um bate-papo, tudo no melhor estilo Stain.  Sim, eu fui paciente, pois vale à pena. A representação da periferia e do povo periférico e negro chamou a atenção, assim como a beleza que ele extrai do cotidiano.

Favela é sinônimo de prosperidade, trabalho, criatividade, resiliência e sobretudo, conhecimento”, disse ele, no nosso papo por e-mail, no qual ele afirma que, nas comunidades periféricas, o jeito de agir, vestir, falar também é arte e cultura.

Acomanhe nosso papo:

O artista, Uendel Nunes

Moreira – A primeira vez que vi seu trabalho foi quando a Fernanda Abreu republicou a imagem que vc fez do menino João Pedro, morto a tiros dentro de casa pela polícia. Aí vi que seu instagram exalta a comunidade negra, há a preocupação de se criar uma imagem radiante, né? Chama a atenção a questão da representação do negro, com a Monalisa black power… Em uma das artes, lê-se “eu quero ser percebido pelo mundo”….

Del – No cotidiano de uma pessoa preta, tem racismo. No cotidiano de uma pessoa preta e periférica, tem racismo, falta de saneamento,atenção de políticas públicas e a falta de representação do povo periférico na mídia. Eu tento retratar o cotidiano através de um olhar simples, mas belo. Através das minhas vivências e experiências. A periferia produz muita cultura, sejam os cortes de cabelos alinhados, as danças irreverentes ou até mesmo os dialetos fazem parte de um conjunto de comportamento que se desdobra, resiste e reinventa-se para continuar acontecendo e, no entanto, a cultura periférica é marginalizada, isso assusta quem não está inserido nela. Não quero retratar em nenhuma arte minha a parte negativa das favelas, isso a mídia e o jornalismo sensacionalista já segue empenhado em cobrir. Quero, sobretudo, conversar com os de dentro -isto é, aqueles que, semelhantes a mim, são oriundos de comunidades periféricas – que o que nós fazemos, que a nossa cultura, o jeito de agir, vestir, falar também é arte. Também é cultura.

Moreira – Como você vê a representação do negro hoje na arte e na cultura?

Del – É uma pergunta complexa definir a representação do negro na arte e cultura contemporânea, pois nesses dois ambientes há muitas ramificações. Digo, a cena do rap underground possui diversas personalidades pretas, no pop, no samba, axé e outros gêneros, entretanto o mainstream ainda é tomado por pessoas brancas. Na TV, é muito pouco o que se assiste sobre pessoas negras protagonizando, mas, no início deste ano, assisti a uma peça protagonizada por pessoas pretas e tudo foi milimetricamente bem feito. Acho que, talvez, o problema esteja aí, no que está sendo vendido na mídia, pois muita coisa boa tem sido produzida.

Moreira – É tudo colagem digital? Ou você desenha parte dessas belezas? Me fala mais do seu processo….

Del – A técnica é de recorte e colagem, o processo surge a partir das minhas vivências e experiências. Fotografias, sons, cores, texturas, tons, signos e símbolos que estão passando diariamente em minha ótica e que, de tanto ser naturalizada em minha mente, acabam ganhando formas na minha arte.

Moreira –  Essa música do Belchior parece estar no imaginário coletivo nos últimos anos….. Foi regravada recente pelo Danilo Moralles, sampleada por Emicida, Pabllo Vittar e Majur. O que faz de Sujeito de Sorte uma canção tão especial?

Del – Sujeito de sorte é um tapa no ombro, esse ano eu não morro. É uma conversa minha entre os meus, é uma palavra de acolhimentonesse momento de travessia da pandemia. É sobre cuidarmos uns dos outros, sobre como usamos a nossa liberdade e como isso

Del – Queria explicar a arte Favela. Todo brasileiro sabe o que é uma favela. Alguns nunca entraram em uma. Outros vivem desde que nasceram. Ambas têm percepções, pensamentos e opiniões diferentes. Alguns querem que acabe, pois associam à pobreza, criminalidade e ignorância. Para outros, a favela acolhe, protege, ensina. Uma Mãe. Uma entidade. É parte do ser e nem mesmo o dinheiro é capaz de romper esse laço. Favela é sinônimo de prosperidade, trabalho, criatividade, resiliência e sobretudo, conhecimento. Falta apenas o investimento certo do estado garantir os direitos básicos e potencializar todo o valor que nós temos.

Abaixa que é tiro!??

O Circo Voador No Ar desse finde traz Johnny Hooker,  no sábado, no show de seu segundo disco, “Coração”. Na sexta, tem a festa A Noite do Bem Bolado (Sexteto Sucupira, Samba que Elas Querem e Samba Independente dos Bons Costumes). Tudo sempre às 22h.

Lives da semana? Hoje tem live em comemoração aos 85 anos de Alaíde Costa com participações de João Donato e Gilson Peranzzetta, às 20h, no YouTube do Blue Note SP. Amanhã, sábado, dia 3, tem The Fevers às 18h30. Logo depois, os DJs Edinho e Tito Figueiredo fazem vinil set na Paradiso, das 20h as 1h30. Toda segunda-feira, 17h, tem Moacyr Luz e samba do trabalhador. Na quinta, dia 8, tem live do gente boa BNegão, dica do Tuta.

“BRAZA Leve” é a versão ao vivo, mais intimista e tranquila, do grupo, que troca guitarra por violão, e bateria, por cajón, no sábado, dia 3, às 16h30, no YouTube, transmitindo ao vivo do Lago Buriti, no Rio. Contribuições são bem-vindas aqui.

Dead Fish, Pense, Zander, Bullet Bane, Black Days, Molho Negro, The Mönic, Punho de Mahin e Continue são as bandas do festival Monster RockFest Online, amanhã, sábado, dia 3, a partir das 15h, no Facebooke no Twitch.

Toninho Horta

Eita sábado abençoado! A sexta edição do Festival BB Seguros de Blues e Jazz rola no YouTube, a partir das 17h, com Compasso Lunare Fredera, Orleans Street Jazz Band (18h), Juarez Moreira(19h), Wilson Sideral (20h), Toninho Horta (21h ), John Primer (22h) e Al Di Meola (23h).

“MATRIZ.doc”, documentário sobre o processo de gravação do disco homônimo de Pitty, será lançado no dia 7, aniversário da cantora, no canal GNT. Estreia dia 7, às 23h59, com reprises dia 10 (2h) e 12 (0h30).Vale lembrar que, toda sexta, 22h, tem Sexta sem lei no Twitch da diva, e pega fogo.

Parabéns pro Caetano Brasil, que foi indicado ao Grammy de Melhor Álbum Instrumental pelo disco “Cartografias” (2019). A linda capa é do Renan Torres. Também foram indicados Emicida, Céu e Elza Soares, Letrux, Ana Frango Elétrico, As Baías, Moacyr Luz, Bethãnia, Pagodinho e mais.

Playlist com novidades musicais dessa sexta. Esta semana, saiu o disco, “Assim tocam os meus tambores”, de Marcelo D2, que também tem versão visual

Sexta Sei, por Fabiano Moreira