Em seu clipe de estreia, “Tarumã Berimbau”, o artista Fer Loki pede agô para seu novo album.

Por José Hansen

Produção juizforana-paulistana, Tarumã Berimbau abre alas para o novo projeto do artista Fer Loki

Fer Loki nos conta um pouco sobre seu processo criativo e referências para criar o álbum Tarumã Berimbau, onde expressa algumas de suas dualidades. Entre a mudança e o trabalho, a melancolia e a força criativa, a morte e o futuro, o artista faz de sua vida um álbum de memórias que dá origem a suas composições.

O Clipe da música título do álbum, gravado em Juiz de Fora, dirigido pela Inhamis segue após a entrevista, junto com a segunda música lançada “Tentar Entender”.

Como dito na letra, você nasceu para viver intensamente, conta pra gente como foi o processo de gravação desse clipe com imagens tão vigorosas.

“Tarumã Berimbau” nasceu despretensiosamente. Nos últimos anos muitas transformações pessoais, contextualizadas em alguns momentos históricos, políticos e humanitários, me fizeram repensar sobre minha vida e sobre as minhas relações com o tempo, com o trabalho, relações afetuosas, relações com os objetos, com as coisas, com a cidade. Acho que a busca por me encontrar de forma real e verdadeira me levaram ao despertar sonoro.

Sempre cantei e criei melodias, porém, sempre fui muito tímido comigo mesmo para aceitar e seguir em frente evoluindo esse processo. Quando o “mundo parou”, tive a oportunidade de experimentar o tempo de outra forma, tive que enfrentar meus “demônios”; para manter a cuca firme, fiz o que me parecia o mais são para me manter de pé, me escutei. Nesse processo de Escuta, comecei a valorizar de forma poética o que saía de mim. Comecei a gravar, escrever, registrar de formas diferentes as imagens que passavam por minha cabeça, contando algumas histórias e sublimando algumas dores em poesias.

Uma força foi surgindo e pouco a pouco fui me deparando fazendo aulas de baixo com meu amigo Douglas Poerner, iniciando um processo criativo de entendimento sobre Teoria musical com meu amigo Nathan Itaborahy, produtor do Álbum. Me despertou a curiosidade em entender o processo de gravação das coisas e Nathan iniciou um novo ciclo comigo transformando nossas aulas em exercícios sonoros, para que eu compreendesse melhor o processo de uma gravação no seu “Estudio Torto”.

As musicas do disco, foram chegando de mansinho e criando corpo. “Chico de Nó” foi um dos primeiros exercícios que testamos. Sem perceber, esse processo foi se tornando algo mais sério. Os exercícios foram substituídos por títulos e as canções foram ganhando letras, melodias, arranjos. Um mundo de possiblidades explodiu em minha mente. Uma história foi se conectando a outra e quando percebi, ví que estava contando um recorte da minha vida, unindo a memória afetiva, minhas referências familiares, fatos do meu momento presente que acarretariam no meu futuro. Reflexões vividas e não vividas. Histórias que ao meu ver se conectam com a trilha sonora que saiu de mim nesse recorte de tempo e espaço.

Fotos: Caio Dezidério

Tarumã vem do Tupi e é uma árvore com uso medicinal e o berimbau é esse maravilhoso instrumento que guia as rodas de capoeira, onde se deu esse encontro com esses dois elementos?

Em “Tarumã Berimbau” falo sobre duas forças que andam juntas em mim. Honrando sempre o sentimento do amor, me despeço de algumas coisas, guardando-as na minha caixinha de memória, nas mil figurinhas de chicletes que fazem parte do meu álbum da vida. Me despeço de algumas coisas pra permitir que outras cheguem. E no balanço do tempo, no vai e vem da vida, eu me divido entre a melancolia da minha alma e o movimento do meu corpo e da minha mente. Sempre em frente. Cada vez mais confiante em mim e nos que me cercam nesse momento presente. Guardando o que importa e ressignificando o que ja não me define mais. “Tarumã” simboliza toda a melancolia que existe no meu coração e o “Berimbau” representa a força potente que me move em direção aos meus desejos mais profundos.

Encontrar o amor dentro de nós é um processo muito bonito, como a música e a expressão artística te ajudam nessa missão?

Definiria a sonoridade do disco como um passeio pelos lugares onde vivi, traduzidos em músicas. Uma experiência sonora que tenta representar espacialmente as sensações de ambiências vividas e melancolias sentidas.

O resultado é um álbum que reforça o que há em mim da tradição da canção brasileira, sem deixar de lado a veia tropicalista, mineira, baiana, rock´n roll

A escolha do Nome do Álbum “Tarumã Berimbau” vem do título da segunda canção do disco, e define minhas reflexões a respeito de minha trajetória até hoje como ser humano. Escrevi um pequeno texto para definir o que seria “Tarumã Berimbau” para mim segue abaixo:

Uma das coisas que aprendi a honrar na vida é o amor! O amor que eu sinto, o amor que eu senti fazem parte do movimento que me fortalece e me leva adiante. E é honrando sempre esse sentimento que eu me despeço de algumas coisas, guardando-as na minha caixinha de memória, nas mil figurinhas de chicletes que fazem parte do meu álbum da vida. Me despeço de algumas coisas pra permitir que outras cheguem. E no balanço do tempo, no vai e vem da vida, eu me divido entre a melancolia da minha alma e o movimento do meu corpo e da minha mente. Sempre em frente. Cada vez mais confiante em mim e nos que me cercam nesse momento presente. Guardando o que importa e ressignificando o que já não me define mais. Sempre com amor. Algumas coisas precisam morrer pra virar adubo pra outras nascerem. E isso deve ser belo e simbólico.

“Tarumã Berimbau”

Te conheci inserido no universo da arquitetura e do design, como aconteceu essa passagem para a música e como esses universos se relacionam na sua produção?

Venho me experimentado musicalmente de forma espontânea ao longo da vida, porém, foi a partir de setembro de 2020 que comecei a realizar registros de gravações amadoras de celular para guardar ideias sonoras. Esses áudios foram se transformando em canções, letras e arranjos musicais. O pensamento sobre criação na área da arquitetura, design e direção de arte me proporcionou entender a Música como uma mescla de algo espontâneo (uma ideia) com uma organização disso. O projeto e o método que se aplicam em minhas criações visuais me proporcionaram uma organização singular no que diz respeito a minhas concepções sonoras. O desenho faz parte do meu traço auditivo e me proporciona pensamentos sobre combinações estéticas em acordes e nas concepções de arranjos.

Sempre me vi como compositor de espaços, me destaquei desenvolvendo organizações para certos objetos em uma estante, ou compondo vazios para assim preenchê-los com móveis em uma casa por exemplo. A palavra “composição” sempre esteve em meu vocabulário de trabalho. A expansão deste conceito em minha vida me revelou que eu era capaz de me experimentar compondo em outras esferas para além da arquitetônica ou desenhando um objeto móvel. A composição musical nasceu em mim espontaneamente, porém utilizei dos artifícios estéticos que estudei e apliquei na música, resultando no disco “Tarumã Berimbau”. O oficio da tecelagem foi muito importante nesse processo também, pois fui praticando quase que simultaneamente música e Tear, e com isso, fui incorporando ideias rítmicas, compositivas, harmônicas e abrangendo estas definições para além do conceito limitado a um oficio especifico.

 

Conta pra gente, quais são os planos para o futuro?

No momento os planos para o futuro são de amadurecer e seguir nos planos do presente. Continuar criando, trabalhando, projetando e já estou me preparando para iniciar o processo do próximo disco, pois tenho algumas ideias musicais guardadas e espero amadurecê-las para o próximo álbum no futuro.