por Francis Hempi e Joseph Hansen
Foto: Rayi Kena
Amarração parece uma música do Mantra Happening (2016), pode falar sobre isso?
Então, ela é de uma mesma onda de ter nós 4 tocando e gravando juntos, como foi o Mantra Happening, mas nessa faixa eu melhorei algumas coisas sobre gravação e o disco novo que to fazendo vai ter dessa onda e de outras até mais próximas do indie rock.
Quando essa música foi gravada e quem participou com você?
A base foi eu, Casaes, Bigú e Joab, em 2016, e o restante foi entre 2019 e 2020 com a Barbara do MOS no metalofone e os corais do Felipe do Gaax (que também tocou trompete), Dani do Blastfemme e Dinho do Boogarins, Tem o back do Joab tmb q vai no meio do coral.
O Lê Almeida tem ficado cada vez mais Oruã? Você acha isso também ou eu to viajando?
Acho que isso é mais do que inevitável, os elementos se trombam, né!? Mas tento explorar algumas coisas no Oruã que antes nem tinha chegado perto com nenhuma outra banda, tipo o freejazz e o krautrock.
Lê, o que é o freejazz e o krautrock?
Ah, esses negocio tipo Alice Coltrane, Pharoah Sanders, Can, Faust… em algum momento essas paradas agregaram tanto pra mim quanto o indie rock
E tem uma linha na criação para diferenciar o que vai para um projeto ou para outro?
Em algum momento o principal se tornou o Oruã pra mim, e os outros projetos eu passei a cerca pelas circunstâncias, as minhas coisas como lê almeida eu tinha deixado um pouco de lado e passei a repensar nos últimos tempos quando re-ouvi umas gravações que não tinha aprontado e poderiam me levar para um disco.
Como Oruã eu já vinha fazendo umas faixas no meio da tour com o Built to Spill que quando cheguei de volta ao Brasil eu só organizei e já montei um disco sem esforço. E o Oruara eu passei a destinar ao freejazz e coisas nesse campo, sem muita coisa já pré arranjada. Acho que por agora tem caminhado naturalmente.
Parece rolar uma sopa, muito bem temperada, de influências nos últimos sons, conta umas pra gente?
O Disco Doom, que conhecemos na tour com o BTS foi tipo quase que uma nova febre, ouvi e reouvi tudo deles já no meio da tour, Warm Hair, essa conheci na tour tmb
O delay tem sido um elemento muito presente nos seus últimos trabalhos, pra mim ele representa uma brincadeira com o tempo, o que acontece aqui é reproduzido alí e por diversas vezes… O que esse efeito diz pra você?
Em algum momento ele passou a ser o meu pedal preferido, muito propenso a umas coisas com a guitarra que me fazia sair do lugar comum. Fazer umas combinações, testar coisas. Eu e o Casaes pegamos um tipo específico de delay nos EUA na última tour que passamos a usar com mais frequência nas novas gravações num doidera bem específica.
Foto: Enzo Mastrangelo
Lê, o quão madura é Amarração na sua carreira? Porque eu sinto que esse caminho mostra o Lê brasileiro, não que TODOS os outros trabalhos não sejam, mas eles me soam o roque que vc criou para si.. e agora estamos falando de letras que brincam com as palavras, com nosso folclore, sei lá… soam mais introspectivas.
Pode crer, entendo. Acho q isso veio com o tempo, meus interesses em música além do indie e do classic rock. Como experimento de influência, eu hoje ouço o Hyldon por exemplo com uma frequência maior do que imagino as vezes, eu gosto do cantar em português, acho ele de charme sem igual no mundo, ele tem ginga nas palavras.
Quando tá rolando o processo de compor.. vc pensa.. essa vai ter 3 min…. essa vou gastar 10min?
Nem penso, acho q isso é mais na hora q estamos todos tocando juntos, só vai.
Tem um momento meio “colagem” no final, de onde vem isso?
Aquilo foi um monte de colagem de fita mesmo, a gente tem muita coisa largada, feita nos recortes que acabei revirando.
Percebemos certa espiritualidade/religiosidade/fé em suas publicações, pode falar sobre isso?
Ah em algum momento eu passei a ver de modo muito palpável que o poder do pensamento positivo poderia atrair de fato muita coisa positiva, abençoar ações, episódios (principalmente aqueles em Acapulco). Passei por muitos momentos difíceis onde acreditei com muita força que as coisas melhorariam e elas mesmo demoradas foram aos poucos melhorando.
Qual a indiferença de Amarração?
Não sei especificar, mas consigo lembrar de muitas situações na vida que a minha família não parecia em nada como as outras ao redor.
O que o amor é capaz de fazer?
Mudar algumas vidas.
Louco.. quando cai na sua casa fiquei muito impressionado com o sentimento que tive que vocês (vc, leticia e sua mãe) se correspondiam pelo olhar e por gestos e tinha muito carinho envolvido…
Total, sempre teve muitas coisas nos gestos. Meu pai teve um avc indo levar um cabo de mic pra gente sair de tour. Essas coisas acabaram por fazer eu ser até mais decidido nos caminhos.
O quão responsáveis são seus pais nessa trajetória toda?
Foram o alicerce, em algumas matérias que faziam lá na nossa antiga casa tem algumas q eles dão depoimento e é visível que eles apoiavam e gostavam do caminho que eu tava indo, sempre tive muita força dos dois, agora fica até certo um sentimento de continuar também por eles, em respeito e amor.