Tradição Rio Grandense que cavalga entre misses e monarcas agita aniversário de jovem município do interior.
José Hansen
Estou há poucos meses no Rio Grande do Sul e pela primeira vez tive a oportunidade de viajar para o interior. Descobri que tinha tirado a sorte grande de chegar junto ao aniversário de 34 anos do pequeno e importantíssimo município de São Miguel das Missões. Para comemorar a data de sua emancipação a cidade promoveu um grande baile, regado a bolo e cerveja, para todos os seus filhos e vizinhos.
No fundo e generalizando toda capital é igual, tem shopping e a lanchonete do palhaço. É no interior que as diferenças vão se acentuando e no meu caso eu estava ansioso por esse momento de descoberta. Contratado pela prefeitura para realizar um trabalho, fui bem recebido pela secretaria de turismo e logo convidado para o Baile de Escolha das Soberanas. Achei o nome maravilhoso ficando animado e curioso.
Em rápida pesquisa no google, pude confirmar que este tipo de evento é bem comum no estado. Fiz uma pequena lista de municípios que encontrei para exaltar a criatividade gaúcha na hora de batizar suas cidades: Encantado, Harmonia e Capitão são os meus favoritos.
Conversando com algumas pessoas pude observar a mobilização da cidade para o concurso. As pessoas se dividem entre suas candidatas favoritas, discutem seus méritos e torcem. As escolhidas – divididas entre primeira e segunda princesas e rainha soberana – devem representar o município durante um ano, em eventos nas cidades vizinhas e pelo estado em geral. São monarcas, soberanas eleitas por um seleto júri.
As jovens passam pelo crivo de jurados variados, pelo que pude apurar no caso desse evento específico, eram proprietários de importantes grifes locais, a secretária de turismo do RS e outras pessoas de importância compatível. No certame são julgados os conhecimentos das jovens sobre o município (o qual possui um patrimônio mundial chancelado pela UNESCO), compostura numa prova de cocktail e suas habilidades e corpos na prova clássica de passarela.
Infelizmente perdi todas as provas, mas cheguei em tempo de acompanhar à entrega dos ‘’mimos” e passagem da faixa, momento de sucessão das soberanas. Eu estava mais interessado em tomar uma cerveja e me divertir do que cobrir o evento. Logo fiquei preocupado com a impossibilidade de adquirir qualquer item do cardápio sem papel moeda. Confesso que não tenho utilizado essa modalidade de troca.
Me direciono para perto do palco buscando algumas fotos e logo sou convidado pela secretária para sentar numa mesa de seletos convidados. Para minha alegria, recebo um latão de skol, cortesia da casa <3. Assisto ao anúncio das vencedoras, acompanhados de energéticos aplausos, toda a pompa e fotos oficiais. Está encerrada a Escolha das Soberanas. Consigo fazer uma foto posada das ex-soberanas, mas as atuais parecem muito atarefadas para me darem alguma atenção.
Mas não só de desfile e gala é feito um Bailão de Interior, a melhor parte está por vir. Rapidamente as luzes de serviço do ginásio municipal se apagam e o moderno palco se acende, com o grupo San Francisco (uma cópia do tradicional grupo San Marino) chamando o povo para a dança. Os movimentos parecem coordenados entre todos, a pista de dança varia entre rotação e translação enquanto os “sem par” se observam em pulsante tensão romântica.
Logo me percebo como um intruso filão de latão no meio da elite política e econômica regional e decido me retirar da mesa, mas não antes de comentar que o prefeito é um pé de valsa. Agradeço, me despeço e vou flanar pelo baile. Ao fim do dançante show do grupo San francisco é hora da estrela.
Paula Machado e Banda agitam a turma com os grandes hits do sertanejo. As peculiaridades do evento tinham se encerrado, então vou me dirigindo para a saída, onde fui parado por um grupo de jovens que pediu para ser fotografado.
Saio do ginásio agradecido, desejando o melhor para as jovens soberanas e para o jovem município de São Miguel das Missões. Encaro o forte vento minuano e vou cambaleando por uma via deserta, com uma gostosa sensação de segurança. Viva o Bailão, esse suco de Rio Grande do Sul.