por Joe Hanen
Eu gostaria que esse fosse um ensaio sobre o fim de mundo mas é só mais um testículo de fim de ano. Lembro da minha primeira reflexão sobre o corona vírus, pensava na utilidade que as minhas botas teriam no fim do mundo, pensava na mudança de atribuição de valor, nas coisas e nas pessoas. O mundo não vai acabar, e isso é uma pena. O mundo que em que nós vivemos não vai acabar, não haverá rompimento necessário para isso pois o retorno é aguardado por todos e só significa uma coisa: nós é que vamos acabar.
Vou dividir aqui a minha reflexão em três pontos, uma retrospectiva sentimental, metas para mossa próxima volta ao sol e um álbum de fotos sobre o ressentimento. Divirta-se.
RETROSPECTIVA SENTIMENTAL
A fase da esperança
Eu desejei, e até acreditei, que a pancada do vírus poderia acabar com nossa atual forma de viver, essa que já tem data pra extinguir a humanidade, mas fui enganado. Só nos adaptamos a uma forma ainda mais cruel de exploração, a morte de muitos, ao desamparo do Estado… é vida que segue. Vamos reabrir o comércio, fechar e reabrir mais uma vez. Hoje, Juiz de Fora está na onda vermelha e temos protestos de patrões na rua, os pequenos-burgueses estão a protestar por “direitos” enquanto o povo continua massacrado, com o nariz pra fora da máscara e quieto [momento do clichê do silêncio ensurdecedor].
A fase do medo
Logo depois que as mascaras e o álcool em gel dominaram o cotidiano, entrei na minha segunda fase, pânico de qualquer proximidade, cara feia pra qualquer um na rua e distanciamento social máximo, família e amigos. Não sou bom com datas, só guardo as sensações, mas acho que essa fase aconteceu na hora errada e não durou tempo suficiente. Não deixei de frequentar a feira do bairro, nas quartas, e lá era o meu termômetro social e foi um bom local pra acompanhar. Logo vieram as reaberturas e a coisa toda foi afrouxando.
A fase do vacilo
Então finalmente as cores foram ficando mais brandas e as ondas corriam soltas, fui iludido por um clima de tranquilidade, voltamos a reencontras os amigos, algumas reuniões esporádicas. É impressionante quanto o poder público e o movimento de massas pode influenciar o julgamento, mesmo sabendo dos riscos e tendo consciência do papel de cada um, caí na ladainha do “novo normal” e peço desculpas pelo vacilo. Tá aí a imprudência dos discursos oficiais.
A fase atual
Olha, eu não sei não viu… começando com o papo da era de aquário, querem nos deixar relaxados, tudo vai mudar – lembra daquele filme Hair? Pois é, era só um bando de maluco dançando e o mundo foi ficando cada vez pior, devem estar gordos ou mortos. De acordo com as minhas previsões escatobalísticas [a cabala da merda] o futuro não tem cara e nem cheiro bom, aquela pontinha colorida de esperança não passa de um milho mal digerido. Não tem vacina, não tem seringa. E mesmo se tivesse, o sofrimento humano continua e a vida da maioria se tornou mais dispensável ainda, já nem nos lembramos mais do número de mortos.
Enquanto isso, quando vou ao mercado a pessoa me aponta a pistola que mede a temperatura para pulso, funciona, ou é pra não funcionar mesmo? Não me lembro onde, mas ouvi a anedota “ahh a gente aponta pro pulso porque na cabeça dava muita temperaturas alta…”. Eu não tenho medo de morrer [mentira], mas tenho muito [mais] medo de definhar. Eu não tenho medo de morrer [mentira de novo] mas tenho muito [mais] medo de sofrer. Enquanto sociedade, já estamos sofrendo e definhando, mas, infelizmente não estamos morrendo. Por isso eu digo, aponta essa pistola pra minha cabeça porra!
METAS PARA 2021 OU MAIS 365 VOLTAS EM TORNO DE NÓS MESMOS?
- Não escrever mais textos de “uma sentada só”
- Parar com as drogas [manter jornais e café]
- Não cair nas ladainhas
- Escrever um poema sobre pão para o site euamopao.com.br
- Diminuir o consumo de pão
- Atear fogo em um carro
- Acabar com o problema dos cupins
- Desenhar mais
- Beber muita água
- Sobreviver
ÁLBUM DO RESSENTIMENTO
Confesso que fico preocupado com o pessoal nas praias, mas como já fiz minhas merdas não me sinto no direito de criticar ninguém. Então fiz essas fotos ressentidas enquanto fui a feira do bairro [aquela das quartas].
Obrigado por passar esse ano conosco, comente sobre seu ano, se abra aqui no chat, nós provavelmente não vamos responder.
???
“devem estar gordos ou mortos” hahaha se somos o novo hair na fake era de aquário, estamos no caminho certo; só espero ter tempo de engordar (mais) – considerando o comer dentro dos T O P 3 dos prazeres(??!?) do confinamento – antes do fim. Por isso, não prometo nada sobre diminuir o consumo de pães [tampouco sobre as outras metas ??♀️ ], mas é uma boa lista. Das boas velhas listas de resoluções de ano novo que já começam a desvanecer lá pela segunda quinzena de janeiro. O ano muda, é inevitável, mas os vacilos… Quem garante? Li por aí que o governo tbm vai manter os dele.
ótimo texto 😉